Crítica: Tatá Aeroplano | Tatá Aeroplano

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CÃO SEM DONO
Primeiro disco solo de Tatá Aeroplano, integrante do Cérebro Eletrônico, traz viagens nostálgicas tendo o amor como fonte

Por Juliana Simon

Tatá Aeroplano está só. Um dos integrantes dos “novos paulistas” (ao lado de Tulipa, Thiago Petit, Tiê e Dudu Tsuda), o cantor lança disco que leva seu nome. A irreverência, psicodelia e mistura feitas em suas bandas Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro resistem, mas ganham outras cores em composições de desamor e outros experimentos.

A grande surpresa do álbum é a “prosa musical” “Par de Tapas que Doeu em Mim”. Com mais de dez minutos, a música narra um romance conturbado com altas doses de Nelson Rodrigues. Para começar, o cenário é a Rua Augusta e a “vilã” uma “vadia burguesa”. Uma delícia dramática.

Outras canções retomam o tema de término, de formas mais tradicionais. A romântica, quase brega, “Um Tempo para Nós Dois” e “Te Desejo Mas Te Refuto”, simples, lenta, com um belo arranjo de violino e a melhor voz de Tatá. Em parceria com Bárbara Eugênia (com quem fez a ótima “Dos Pés”, presente no álbum da cantora), Tatá canta “Uma Janela Aberta”, num ritmo bailinho. Dentro da ala mais “deprê” ainda tem “Cão Sem Dono”, com batidas, guitarra e interpretação marcantes.

A melancolia está presente, mas em menor medida na psicodélica “Tudo Parado na City”, que entoa “eu acredito na existência do amor, da dor, do sol, do som” num delírio de trânsito em São Paulo (quem já experimentou, sabe que faz todo sentido).

A alma retrô de Tatá é escancarada em músicas como “Machismo às Avessas” com muito tecladinho à la Jovem Guarda; e “Sartriana” e “Night Purpurina” que repetem a fórmula e ainda acrescentam as guitarras rasgadas de tropicália. Nas letras, o choque à nostalgia ao citar Sex And The City, Blur, Júpiter Maçã e Amy e a afirmação dela com beatniks e Bardot.

A estranha no ninho “Perigas Correr” joga bonito nas palavras e anima com teclado e melotron. Ao contrário do que dizia seu maior sucesso no Cérebro Eletrônico, Tatá não parece moderno. E nem precisa. As trips nostálgicas compõem um belo trabalho autoral e o amor, ou fim dele, é fonte infinita e atemporal.

TATÁ AEROPLANO
Tatá Aeroplano
[Independente, 2012]

Nota: 8,0