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Margot Robbie em uma das melhores cenas do filme. (Divulgação).

Crítica: Tudo é gigantesco em Babilônia, mas seu resultado é minúsculo

Novo longa de Damien Chazelle é um apanhado desconjuntado sobre cinema, poder e história, mas derrapa ao tentar chocar espectador a todo custo

Crítica: Tudo é gigantesco em Babilônia, mas seu resultado é minúsculo
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Babilônia
Damien Chazelle
EUA, 2022, 2h39. Distribuição: Paramount
Com Brad Pitt, Diego Calva, Margot Robbie e Jean Smart

Em um típico dia de muito calor californiano, um grupo de pessoas tenta subir uma montanha com um elefante em um caminhão. O trabalho que parecia impossível de ser realizado só obteve sucesso após o animal defecar quilos e quilos de fezes em cima de um dos ajudantes. Mais “leve”, o paquiderme enfim pode chegar até o seu destino final: uma gigantesca festa regada a muito orgia e drogas na mansão de um poderoso executivo de Hollywood. Este início parece ser a senha para adentrar ao universo de Babilônia, novo longa de Damien Chazelle (de La La Land), que se passa nos loucos anos 1920, nos EUA.

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Tudo é hiperbólico no filme, que tem um início até promissor. O diretor foca em dois personagens bem carismáticos, interpretados por Margot Robbie e Diego Calva. Ela é Nellie LaRoy, uma aspirante a atriz que aplica pequenos golpes e artimanhas para tentar conseguir uma chance nos sucessos de bilheterias da era do cinema mudo. Ele é Manny Torres, um ajudante de segundo escalão que tenta subir na vida e vencer o preconceito racial ao trabalhar como executivo de cinema. Tudo parece dar certo para os dois, que com um toque de sorte e muitas mutretas, conseguem ascender ao topo mais alto da indústria.

Até este ponto, Chazelle consegue conciliar o gigantismo da produção do longa com um comentário interessante sobre poder, dinheiro e questões de gênero e raça. Mais: ainda deixa nas entrelinhas de como toda opulência e riqueza é muito frágil e que manter esse status pode acabar com a sanidade de uma pessoa (chega a ser letal em alguns casos). Há cenas lindamente filmadas, como a já referida festa com sua coreografia de loucuras envolvendo sexo, bebidas, música, dança, e mais adiante, destruição e morte (além do elefante, claro). E tem ainda uma sequência impressionante que mostra os bastidores de uma superprodução envolvendo milhares de figurantes e efeitos especiais, filmados no deserto.

Tudo desanda à medida em que Chazelle adiciona mais e mais tópicos a esse seu épico sobre esse período da história do cinema. Ele quer comentar o trauma causado pela transição do cinema mudo para o falado, que acabou com a carreira de muitos artistas, como o galã interpretado por Brad Pitt (aqui repetindo trejeitos já vistos em diversos filmes). Mas tudo soa raso e superficial. De repente, o foco do filme muda para o desencanto com o star-system, que tanto eleva quanto destrói carreiras. Mas, novamente, é tudo muito atropelado, aparentemente sem rumo. O filme vai caminhando nesse ritmo aos solavancos até culminar em uma sequência final que mistura gângsters, perseguições e tiros, o que chama atenção para a distância que o diretor tomou daquele início promissor. Há ainda passagens que chegam a soar constrangedoras, se aproximando da comédia pastelão de sitcom, como quando Nelly (Margot Robbie) tenta se passar por uma diva chique do cinema em uma festa de grã-finos assessorada por uma jornalista de fofoca (Jean Smart, aqui bem mal aproveitada).

Chazelle se mostrou um diretor nostálgico com sua ode aos musicais hollywoodianos, mas com um frescor contemporâneo, como visto em La La Land. Aqui esse seu olhar para esse período de ouro de Hollywood perde estofo porque não sabemos bem o que está sendo discutido aqui embaixo de todo o impacto visual e a busca pelo choque a todo custo. Há também recriações dos bastidores de clássicos como O Cantor de Jazz (o primeiro filme falado, de 1927) e Cantando Na Chuva (1952), que apesar de atenderem à curiosidade do público não acrescentam nada à narrativa nem contribuem para a discussão da relevância desses filmes. É apenas uma recriação vazia.

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