Entrevista: Bruno Souto explora o pop adulto e otimista no novo disco solo, “Forte”

Divulgação1 Bruno Souto Crédito Ri San
Foto: Ri San/Divulgação.
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O cantor e compositor pernambucano Bruno Souto lança seu segundo disco solo, Forte, como uma carta de recomeço e otimismo. Todo calcado no pop, o trabalho chega após um processo de separação do cantor, que após superar o rompimento decidiu fazer um disco “pra cima”.

Forte revitaliza o chamado “pop adulto”, como classifica Souto, que entende que esse tipo de sonoridade ainda encontra um mercado bastante restrito no Brasil. “O rock e a música pop foram minha escola e o que sempre me emocionou. Cresci ouvindo uma enxurrada de coisas dentro desse universo”. O álbum chega após Estado de Nuvem, sua estreia solo, que revelou o talento de Souto dentro da linhagem dos trovadores brasileiros do cotidiano, como Odair José.

A nova fase, entretanto, chega mais sofisticada, com uma estética mais limpa e concisa. “Acho que estou caminhando cada vez mais para o simples e sabendo detectar e descartar os excessos”, conta. O novo trabalho foi produzido por José Vasconcelos e teve participações especiais de Marcelo Jeneci (que toca sanfona em “Repare”) e Régis Damasceno, do Cidadão Instigado, que traz a guitarra para “Muito Além de Nós”. É um disco mais maduro de um dos dos compositores mais talentosos de sua geração.

Foto: Ariel Martini/Divulgação.
Foto: Ariel Martini/Divulgação.

Ainda sob os efeitos das primeiras impressões do disco, batemos um papo rápido com Bruno Souto.

Como surgiu a ideia de gravar “Forte” e quais as inspirações?
Eu já começo a pensar num próximo disco sempre que termino o anterior. É mais “forte” que eu. (risos). No processo de maturação desse novo disco, eu estava passando por um longo processo de separação que foi bem difícil, e naturalmente as letras refletiram isso, apesar de também ter tido uma intenção aqui e ali de otimismo, esperança, recomeço. E não queria fazer um disco que soasse deprê, triste. Queria que o disco soasse um pouco mais leve e “pra cima” que meu disco anterior.

Como foi o processo de gravação? Você já tinha as faixas compostas ao chegar ao estúdio?
Quando entramos no estúdio as músicas já estavam compostas e com arranjos bem avançados já. Antes disso, eu e minha banda base ficamos ensaiando e “vestindo” as músicas. Esse é um processo bem coletivo e prazeroso. Após isso entramos no estúdio Cambuci Roots, em São Paulo, e com a ajuda do co-produtor João Vasconcelos, em dois dias gravamos as bases de todas as músicas. Depois foi só gravar overdubs e colocar a voz. Eu amo esse processo de gravação tanto quanto estar no palco.

Desde seus trabalhos na Volver vemos um entrosamento grande junto à música pop, mas nos seus discos solo isso se solidificou? Como é ser um compositor de pop no Brasil?
O rock e a música pop foram minha escola e o que sempre me emocionou. Cresci ouvindo uma enxurrada de coisas dentro desse universo. Me lembro, ainda criança, que quando ouvi “Let It Be” pela primeira vez, chorei. A partir daquele momento eu queria fazer aquilo, fazer música que emocionasse as pessoas de alguma forma, mesmo não tendo a menor ideia de como fazer isso acontecer, o que era ser um compositor e tal… Então quando comecei a compor e formei a Volver, o que compus e lancei até hoje foi tudo fluindo por um caminho muito natural e intuitivo. A forma que esse tipo de música que faço se encaixa num contexto de mercado penso que é bem restrito. Porém, geralmente todo música feita com algum talento tende a alcançar alguma visibilidade dentro do seu nicho. Não faço música pra agradar nenhum “público alvo”. Me sentir satisfeito com o que faço é a principal meta, e assim outras pessoas também irão se identificar e gostar, consequentemente.
Esse novo disco por exemplo eu digo que foi muito influenciado pela música pop, mas não é o tipo de pop vigente e reinante no país. Acho esse pop do mainstream “linha de produção”, por exemplo, muito plástico, raso e desinteressante. Talvez por isso autoproclamei o disco “Forte” como sendo “Pop adulto” (risos). E sim, no meu trabalho solo o “pop” está mais aparente.

souto

Em “Estado de Nuvem” você apostava em uma proposta mais romântica. Aquele caminho foi deixado de lado ou ainda faz parte da sua musicalidade?
Não enxergo tanto essa diferença, Como trabalhei muito no disco anterior a música “Dentro”, que tem uma letra bem romântica à moda da música romântica brasileira dos anos 70 (intencionalmente), talvez tenha causado essa impressão. No geral, meu estilo de letras não se transmuta muito de um disco pro outro, na minha opinião não há uma mudança radical. Afinal de contas e independentemente das perspectivas, eu quase sempre escrevo sobre amor, relações e seus desdobramentos. E o romantismo está presente em vários versos, mesmo que disfarçado nas entrelinhas. Nesse disco, faixas como, por exemplo, “Faz Parte do Amor” e “Madrugada” possuem um certo romantismo. Mas como maior crítico de mim mesmo, procuro ter um cuidado pra não desandar pro “sentimentaloide” ou piegas.

O que você escuta de pop? Quais foram suas referências para essa nova fase de sua carreira?
Tanta coisa! Mas geralmente coisas mais antigas. No processo de composição e gravação do “forte”, e que eu acho que influenciou/inspirou de alguma maneira o disco: Off The Wall e o Bad, do Michael Jackson, o Disco Club do Tim Maia, Aja do Steely Dan, Lulu Santos, algumas coisas do Chic (tava lendo também s autobiografia do Nile Rodgers), achei interessante também algumas coisas do disco novo do Mark Ronson.

Em “Forte” temos a participação de Marcelo Jeneci, Regis Damasceno e Verônica Ferriani. Como surgiram essas parcerias?
Eu já curtia o som do Jeneci antes do primeiro disco dele, quando tava assistindo uma apresentação dele no Show Livre. Depois nos conhecemos e quando eu pensei em gravar uma sanfona em “Repare”, chamei ele e o resultado ficou bom demais. O Régis co-produziu comigo o meu disco anterior, “Estado de Nuvem”, e o convidei pra gravar as guitarras em “Muito Além de Nós”. Já a Verônica eu conheci através de um vídeo que a revista Veja produziu com os destaques de 2013 e depois nos tornamos amigos. Os backings vocals dela em “Desconserto” ficaram ótimos.

Desde os primeiros discos da Volver até esse seu novo trabalho, como você avalia sua evolução como músico? O que mudou?
Acho que estou caminhando cada vez mais para o simples. E cada vez mais estou sabendo detectar e descartar os excessos.

Quais os próximos passos de Forte? Vai sair em turnê?
Começar a intensificar os ensaios com minha banda e fazer os primeiros shows do disco. Também lançarei o disco em CD e se tudo der certo, em vinil também. Tocar, divulgar… Enfim, fazer as músicas chegarem ao maior número de pessoas possível.

Ouça o disco: