Entrevista Dash Shaw

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INDIE COMIC

Dash Shaw tem cara de rockstar indie. E de fato é: toca na banda de pop experimental Love Eats Brain. Mas é ícone independente em outra área, os quadrinhos. Com seu álbum Umbigo Sem Fundo, um obra gigantesca, que foi lançado no Brasil mês passado, ele conquistou a crítica especializada e conseguiu um feito pouco comum a quadrinhistas: avançar além do meio do qual faz parte. Longe dos fieis leitores de HQ’s, sua obra dialoga com artes plásticas e alcança um público leitor interessado em Literatura e artes. Ilustrador prolífico, publicou na web BoddyWorld, onde explora novos formatos dos quadrinhos online.

Umbigo Sem Fundo, que conta a história de uma família norte-americana foi lançado pelo selo da Companhia das Letras, Quadrinhos na Cia. Dos EUA, Dash Shaw falou à Revista O Grito! sobre a repercussão que sua maior obra tem tido no Brasil e outras partes do mundo.

Por Paulo Floro

Qual é a sua história pessoal com quadrinhos?

Meu pai era, e ainda é, um leitor de quadrinhos, por isso as HQ’s sempre estavam por perto. Ele era um fanático pela Marvel Comics, além de um interessado pela cena underground dos quadrinhos. Havia gravuras do Will Eisner pela casa, e um grande cartaz do Sin City em seu escritório. Eu tive sorte por começar a fazer quadrinhos muito jovem e por meus pais me incentivarem.

Você esperava que Umbigo Sem Fundo fosse um sucesso de crítica?

Se eu soubesse a atenção da crítica que ele receberia, talvez eu não o teria feito ou o teria feito bem diferente. Nenhum dos meus quadrinhos antes, e eu já fiz muitos, recebeu qualquer tipo de atenção. Acho que um nível de inconsciência me ajudou a produzir Umbigo Sem Fundo e BoddyWorld (ainda inédito no Brasil), meu webcomic que comecei antes de publicar Umbigo….

Existem várias graphic novels feitas sob uma perspectiva autobiográfica. Você chegou a pensar em fazer o mesmo? Você acha que as histórias da sua família poderiam render uma boa HQ?

Eu fiz uma ode aos quadrinhos autobiográficos chamado My Entire High School … Sinking into the Sea!, um conto que apareceu na Mome, antologia trimestral da editora Fantagraphics. Sou um personagem nesse conto e salvo uma menina do meu colégio que naufraga. Todos os outros alunos e professores morrem. Eu tentei capturar minhas experiências do colégio nesse conto. Eu também fiz recentemente uma história em quadrinhos com Jesse Moynihan, meu amigo e colega cartunista. É sobre a sua família e como eles se relacionam através do programa de televisão Lost. Portanto, é sua autobiografia, e ele a escreveu, mas eu desenhei e me identifiquei com ela. Ainda não foi publicada.

Como foi o processo de construção dos personagens em Umbigo Sem Fundo?

Comecei a lidar com personagens através do design de personagens. Eu fiz personagens em uma história em quadrinhos chamada “The Mother’s Mouth” antes do Umbigo Sem Fundo e eu adorava o desenho deles, o modo como pareciam próximos uns dos outros, mas eu não os desenvolvi dentro da história corretamente. Lamentei não saber mais sobre aqueles personagens. Eu pensei, na época, que a estética dos personagens era suficiente. Assim, no Umbigo Sem Fundo, comecei com o desenho, a forma dos personagens e decidi que iria passar um tempo com eles e tentar entendê-los.

BodyWorld, que atualmente está publicada on-line será lançada pela Pantheon, em uma edição impressa. Por que você decidiu fazer dela uma webcomic?

Umbigo Sem Fundo foi muito deliberadamente concebido como um livro. Ele usa um monte de páginas duplas, viradas de página, as propriedades formais dos livros. Os quadrinhos que eu fiz antes também são bem conscientemente formais. Senti que isso estava criando problemas para mim. Eu não queria me tornar um “formalista”. Eu queria me livrar da página e se concentrar apenas em painéis, a história. Isso me levou a pensar sobre webcomics. Porque não existem páginas físicas, espaço da página ou virada de página na internet. BodyWorld é apenas um longo fluxo ou rolagem de painéis. Eu também queria fazer um quadrinho seriado, o que significa que sairia em parcelas ao longo de um cronograma, mas ninguém queria publicá-lo mensalmente. Com uma webcomic, eu poderia fazer tudo sozinho e ter controle completo sobre isso.

Qual é a sua série favorita em quadrinhos (ou Graphic Novel) atualmente?

Eu não tenho um favorito. Acho que os últimos volumes da Acme Novelty Library são totalmente incríveis. Eu também só recebi a última edição da Cold Heat, contendo os capítulos 7 e 8, e é incrível porque o personagem principal vai para o Brasil, o que é ótimo, obviamente, já que estive no Brasil recentemente [N.E.: Dash Shaw participou da Bienal do Livro do Rio de Janeiro]

O que você sabe sobre quadrinhos e escritores no Brasil?

Estou muito curioso para conhecer os cartunistas e artistas no Brasil. Espero que Fabio Moon e Gabriel Ba me satisfaçam. Eu também espero ir a uma loja de quadrinhos e pegar alguns trabalhos produzidos localmente.

Umbigo Sem Fundo funcionou tão bem, porque era muito específico para o meio. Você gostaria de ver uma adaptação para filme/TV? Você acha que funcionaria?

Eu gostaria de ver um filme para TV e então fazer uma novelização gráfca do filme, onde eu iria desenhar os personagens com a semelhança dos atores. Gostaria apenas de desenhar os atores a partir dos ângulos de câmera fornecidos pelo filme de TV.

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