Entrevista: Fábio Lyra

fabio lyra foto gil tokioFábio Lyra no HQ Mix 2007 (Foto: Gil Tokio)

SAGA INDIE ROCK
Nome forte no quadrinho independente nacional, Fábio Lyra lança Menina Infinito, Hq sobre uma garota comum, mas com carisma para criar forte indentificação com o leitor
Por Lidianne Andrade

Em sua adolescência, uma garota chamada Mônica faz de tudo um pouco: curte balada, freqüenta sebos de revistas e discos, anda pelas ruas desfrutando a beleza do Rio de Janeiro e escuta música indie-rock com muito orgulho. Colecionadora de vinis, apaixona-se facilmente por rapazes que fazem CDs mixados. Insegura e um pouco gordinha, passa por situações corriqueiras e de identificação global. Também sentiu um “ah, isso já aconteceu comigo também!”?. A personagem do desenhista Fábio Lyra fez tanto sucesso entre os quadrinhos independentes nas páginas da Mosh! que no último dia 19 de julho ganhou roupagem nova, com o lançamento do álbum Menina Infinito (formato 21 x 28 cm, 120 páginas, preto-e-branco), pelo selo Desiderata, da editoria Agir.

Apenas com material inédito, o lançamento do primeiro livro de Fábio não poderia ter local mais adequado: na livraria Baratos do Ribeiro, cenário de diversas aventuras da personagem e também local preferido do autor para complementar sua coleção de vinil. Aliás, esta não é a única vez em que criador e criatura cruzam-se na história. Gostam das mesmas bandas e artistas, como Daniel Clowes, Nick Hornby e Radiohead, freqüentam os mesmo lugares e conversam com as mesmas pessoas. “Minha idéia era só fazer uma personagem pé-no-chão, com problemas, que fosse ao banheiro, acordasse de mau humor e lidasse com problemas comuns”, conta o autor em entrevista por telefone. Mônica é um ótimo retrato dessa nova geração 2000, mas para Lyra, não passa de um mero personagem. “Muita gente, em especial as meninas, diz que se identifica com a personagem, mas não foi algo proposital”. Fato inegável é que a obra tem a cara do dono. “Mas não sou tão baladeiro assim”, brinca.

Desenhando desde os 10 anos, o quadrinista sempre soube o que queria fazer. “No começo não levava muito a sério, mas vi que tinha talento e fui buscando novas técnicas em cursos e livros. Mas, como todo artista, o conhecimento nunca está terminando e ainda estou em fase de aprendizado” conta Fábio. Seguiu o ramo prezando pelo lado técnico e hoje, aos 31 anos, é um dos nomes fortes do quadrinho independente do país e já tem no currículo dois prêmios HQMIX, sendo um de artista revelação de 2007.

fabiolyra meninainfinitoWho’s Monica? Possível inspiração para a Menina Infinito veio de uma namorada recifense

Citado por muitos ao lado de nomes como Daniel Clowes, Adrian Tomine e Craig Thompson pela qualidade autoral do seu material, Lyra não se prende à atividade que mais gosta – desenhar quadrinhos. Quando se fala de arte, de cara a pergunta: dá pra viver de quadrinhos no Brasil? Bem que Fábio tentou, sabendo o quanto seria legal, mas teve que correr para outros caminhos. Transformou o quarto em estúdio e dorme num sofá na sala, trabalha como ilustrador para várias publicações, faz capa de livro, flyer de festa e encarte de CD. “Ajuda a pagar as contas”, brinca. “Claro que gosto de quadrinhos, dá um maior tesão trabalhar na área que se curte, mas não é uma coisa que rola grana sempre, então vou para outros caminhos”, conta o desenhista. Ilustrações são as propostas mais freqüentes, como as recentes capas de livros do americano Scott Westerfeld. “Ilustrar não é um trabalho que dá para ousar, tem prazos apertados e muitas vezes estilo a seguir, mas paga as contas. Dificilmente há identificação com o texto que se está ilustrando. Às vezes tem uns que dá para se jogar, mas são raros. Minha paixão mesmo é os quadrinhos, infelizmente muitas vezes abandonados para os trabalhos do dia-a-dia. Menina Infinito, por exemplo, foi um trabalho de um ano e meio feito nas horas vagas e fins de semana, com um pouco de medo de não conseguir cumprir os prazos da editora”, conta Fábio.

Apesar de já desenhar a um bom tempo, a popularização de Fábio Lyra veio mesmo com a Mônica de Menina Infinito, lançada em 2003 na Mosh!, publicação de bolso independente que fez muito sucesso no início da década. De trabalho recente, traz no currículo a participação na coletânea Irmãos Grimm em Quadrinhos, também lançado pela Desiderata, com a história da Rapunzel. Mas seu maior sucesso rendeu frutos divertidíssimos. Por causa da fácil identificação com a personagem pelos leitores, teve até concurso para a “Menina Infinito Cover”, realizado na Baratos da Ribeiro, onde as inscritas deveriam se parecer fisicamente com a personagem e responder a um questionário. A vencedora foi uma jovem advogada que não queria se participar. “A menina tomou atitudes típicas da Mônica. Apareceu no dia do concurso reclamando ‘como vocês podem fazer um concurso para trazer uma personagem dos quadrinhos para o mundo real?’. Falamos que ela poderia se inscrever e ela ganhou”, conta Fábio Rindo.

Descobrir o porquê do nome do quadrinho e em quem foi sua inspiração são perguntas que valem 1 milhão de dólares para o autor, mas suspeitas giram em torno de uma musa inspiradora. Dizem as más línguas que a inspiração veio de uma namorada recifense, mas são só boatos.

Menina Infinito vem em um ótimo momento, para consolidar a carreira de Fábio como desenhista, mas nunca parar os trabalhos alternativos. “Estou super feliz com o resultado. As pessoas têm recebido bem e, talvez seja o estímulo que eu tava precisando para seguir apenas por essa área”, disse o autor. Para a agenda, nada marcado, vai curtir o sucesso de Mônica ainda por um tempo, talvez com um novo livro em um ano e meio. “Pretendo criar novos personagens, mas nem tenho idéia de onde ir ainda. No momento estou apenas sondando”, diz Fábio.

Site de Fábio Lyra: lyra.50webs.com
Myspace: www.myspace.com/lyrarocks

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