Entrevista: Garotas Suecas

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Pós-aposta: Novo disco vai causar surpresa, promete a banda (Foto: Divulgação)

O QUE É QUE AS SUECAS TÊM?
Por Lidiana de Moraes

Há dois anos quando venceu o prêmio “Aposta MTV”, a banda paulista Garotas Suecas adicionava qualidade na atual cena do rock brasileiro. No entanto, o tempo passou e o grupo caiu na estrada, conquistou os gringos e provou que sempre foi muito mais do que uma promessa. O grupo agora baseia sua carreira com uma aposta no mercado internacional de música independente.

Ganharam destaque por fazer um som que mais parece uma mistura de Mutantes, Ronnie Von, Ottis Reading e o que mais puder adicionar para dançar.

Em entrevista para a Revista O Grito!, o vocalista Guilherme Sal fala sobre o começo na música e também sobre um dos discos nacionais mais esperados de 2010, Escaldante Banda, que sai em setembro pelo selo norte-americano, American Dust.

Para quem ainda não conhece o Garotas Suecas, como a banda surgiu?
A banda surgiu em 2005. Eu conheci o Tomaz no campus da Universidade Católica e a gente descobriu que tinha algumas afinidades musicais e decidiu montar uma dupla chamada Bretton-Woods. A gente fazia uns covers de Van Morrison com duas vozes e violão e ensaiava já umas composições, se apresentando sempre que possível nas noites de microfone aberto do Café Aprendiz, na Vila Madalena. Na verdade a gente que meio que organizava estas tardes e noites de microfone aberto contando com o apoio da ONG Projeto Aprendiz do jornalista Gilberto Dimenstein. A idéia, pelo menos a minha e a do Tomaz, era de montar uma espécie de “Greenwich Village Beat Scene” com umas declamações de poesia, café e violão.

Foi no Café Aprendiz que a gente conheceu o Sesa, que devia ter uns 16 anos na época. Ele me chamava a atenção porque mesmo sendo bastante novo ele conhecia um monte de coisa que os adolescentes normais não conheciam. Por outro lado, ele achava que eu o Tomaz éramos uns beatniks loucos mais velhos e universitários, o que ficou parcialmente comprovado depois que a gente resolveu passar o verão de 2005 rodando pelo Cone Sul. Bom, o fato mais crucial desta viagem foi ter passado o Carnaval em Foz do Iguaçu com um grupo de garotas suecas. Nosso passatempo era ficar exaltando as qualidades delas em uma canção que a gente inventou chamada “what it is that the swedish girl have?”(o que é que a sueca tem?).

Quando a gente se encontrou de novo em São Paulo decidimos montar uma banda com o Sesa e o único nome possível foi Garotas Suecas. A partir daí a gente agregou o Nico, o Perdido e a Irina. Desde o começo a gente já ganhou um monte de concursos e estas coisas que ajudaram a projetar a banda. No nosso primeiro ano a gente ganhou umas gravações num estúdio bem profissional como prêmio de um concurso de bandas. Com estas gravações, no ano seguinte, a gente ganhou um concurso da TramaVirtual e fomos para o Rio abrir um show da Maria Rita junto com o Apanhador Só, o Movéis Coloniais.

Então veio 2008 e vocês ganharam o prêmio Aposta MTV. Foi algo repentino? De que forma isso mudou a carreira de vocês?
Foi bem repentino sim. Foi numa época em que a banda estava mais pra lá do que pra cá. O Sesa estava morando nos Estados Unidos havia mais de um ano, nossos shows estavam sendo bem conturbados e a gente ainda não tinha começado a fazer turnês americanas. Ter ganhado o prêmio foi um puta incentivo pra banda. Eu acho que ajudou mais nesse sentido do que no sentido de popularizar o grupo e nos tornar conhecidos de fato. A gente ficou olhando praquele cachorrinho e pensando “pô, de repente a gente tem um lance ai hein?”

E agora, já é possível dizer que vocês já deixaram de ser uma “aposta”?
Muito boa esta pergunta. Eu espero que o nosso primeiro disco, que vai ser lançado dois anos depois de a gente ter ganhado o VMB, signifique, justamente, uma superação deste período da “Aposta” e uma consolidação do Garotas Sueca no cenário musical brasileiro.

MP3 | Garotas Suecas – Tudo Bem
[audio:https://revistaogrito.com/page/wp-content/uploads/2010/07/Garotas-Suecas-Tudo-Bem.mp3]

Apesar da internet facilitar que o público conheça novas bandas, não acha também que fica mais difícil para os músicos conquistarem uma legião fiel de fãs?
Acho que sim. Mas o que internet facilitou foi a vida dos músicos que não estão interessados em conquistar um “legião fiel de fãs” e sim compartilhar sua música da maneira mais sincera possível sendo ouvido por um monte gente ao redor do mundo que tem uma sensibilidade parecida com a sua.

E como foi o processo de composição de criação do Escaldante Banda?
Pois é. Depois que a gente fez nossa primeira turnê nos Estados Unidos em janeiro do ano passado, o Sesa voltou para o Brasil e a gente decidiu parar tudo por um tempo para escrever o melhor álbum que a gente pudesse. Passamos uns cinco meses do ano passado ensaiando e compondo vários dias por semana, o que foi uma experiência muito legal. O Tomaz e o Nico montaram um estúdio na casa dos pais deles, nos arredores de São Paulo, e lá é um ambiente incrível, no meio do mato, com esquilos e tudo. Foi um momento interessante porque a gente pôde parar um pouco a dinâmica “ensaio-para-show” e falar “Pô, e se a gente tocasse essa no violão?”, “Legal! Nessa eu só vou tocar este surdo!”, “Continua, continua, deixa eu fazer essa linha aqui na sua guitarra”. Mudar um pouco a dinâmica foi crucial pra transformar a sonoridade da banda de uma coisa muito roqueira em uma coisa com algumas outra nuances, que era uma coisa que a gente queria fazer a algum tempo. Pra quem conheceu a banda com “Difícil de Domar” no VMB, talvez seja até um pouco estranho.

Enquanto aqui somos classificadoa como “Jovem Guarda”, no exterior nos classificam como “Tropicália”, não que eu ache que a gente tenha a ver com nenhuma destas coisas

Vocês são uma das bandas novas brasileiras mais bem sucedidas no exterior. O que muda no GS quando estão tocando no Brasil e quando estão lá fora?
Pra ser sincero eu acho que no GS não muda nada. Chegamos lá e tocamos o mesmo setlist com a mesma “presença de palco”. Acho que a mudança essencial é mesmo no ambiente e no público de lá. Nosso público nos EUA é em geral mais velho do que o público daqui, é um público que tem outras referências. Enquanto aqui a gente é classificado como “Jovem Guarda”, lá a gente é classificado como “Tropicália”, não que eu ache que a gente tenha a ver com nenhuma destas coisas. O mais difícil de tocar lá é quando chega naquela parte da letra que é muito legal e você pensa “poxa, eles não estão entendendo nada”, mas ai você olha para o público está todo mundo dançando com muita alegria, é bem doido.

Eu não sei, mas às vezes parece que o americano tem uma entrega com essa coisa de arte que a gente não encontra em nenhum outro lugar. Num dos dias do último SXSW a gente foi tocar em uma casinha na beira da estrada numa festa matutina de café e panquecas. Estava frio, eram umas dez da manhã e o lugar estava cheio. De repente começou a tocar uma menina com uma guitarra cantando músicas sobre “a vida no porão dos meus pais”, todo mundo sentou no chão e ouviu em silêncio o show até o fim. Foi meu sonho beatnik de cinco anos atrás virando realidade, muito bonito.

Que experiências marcantes vocês já tiveram nesses anos de estrada com a banda?
Um ídolo que a gente chegou a conhecer foi o Sky Sunlight Saxon, cantor da banda The Seeds. O The Seeds era uma das bandas que a gente cultuava quando a gente se conheceu no Café Aprendiz. Também conhecemos bem o Kid Congo fundador do The Cramps. Outro cara que é uma referência pra mim que a gente conheceu foi o Ian Svenonius, um cantor, compositor, escritor e apresentador de TV, de Washington. Agora em Setembro a gente vai tocar em um festival com um monte de bandas grandes, em Seattle, incluindo o Bob Dylan e o Booker T.

A experiência mais marcante que eu já tive com o GS foi ter ido para a Austrália fazer um show. A gente saiu daqui numa terça-feira, chegou do outro lado do mundo na quinta, foi instalado em um lugar incrível no centro de Melbourne, tocou em um teatro do começo do século XX para um monte de australiano, voltamos e chegamos em SP na outra terça-feira depois de fazer escala na Nova Zelândia e no Chile. Foi bem surreal, na minha cabeça ficaram umas imagens do bairro chinês de Melbourne com umas barbatanas de tubarão na vitrine, porteiros aborígenes e os Garotas Suecas sentados na frente de um parque comendo carne de canguru, inesquecível.

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