Entrevista: O processo criativo de “ELA”, nova HQ de Luciano Salles

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Luta livre, detalhismo em preto e branco, protagonista feminina forte. Os bastidores da nova HQ do autor de O Quarto Vivente

Demorou apenas três obras para que Lucianno Salles se tornasse um dos quadrinistas com uma das assinaturas mais marcantes de sua geração. Parte de um momento muito criativo (e prolífico) das HQs nacionais ele foi responsável pela trilogia L’Amour: 12 oz, O Quarto Vivente e Limiar: Dark Matter, em que mistura elementos de ficção científica e toques de surrealismo. Antes disso ele lançou uma outra HQ independente, Luzcia, a Dona do Boteco.

Agora ele prepara o novo álbum, ELA, em que segue caminhos pouco usuais dentro de sua proposta artística. A começar pelo uso do preto e branco. Quem leu a trilogia sabe o impacto que a colorização tem no trabalho de Salles, com o uso inusitado de tons vibrantes. “Neste processo em PB estou sendo muito mais detalhista e criterioso. Não que nos meus outros trabalhos não tivesse sido, apenas sinto que estou 100% em cada linha traçada, em cada dialogo pensado e em cada cena montada”, explica Salles nesta entrevista por e-mail.

Saca a sinopse de ELA. “Dette é uma jovem lutadora de artes marciais. Após uma derrota inesperada e análises de exames pós luta, foi informada pela sua equipe que não poderia mais lutar profissionalmente. Ao procurar ajuda especializada, encontra mais do que um problema de saúde. Dette e sua médica descobrem um obscuro torneio anual de artes marciais onde não há regras para os combates e tudo é permitido. Doutora e paciente vão para o torneio com a esperança de poder tratar a doença de modo não convencional perante os formais conselhos de medicina”.

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Parece bem interessante. Para nos adiantar detalhes sobre a obra, que deve sair esse ano, batemo um papo rápido com Luciano Salles.

Quais foram as principais diretrizes criativas que você pensou para ELA, sua nova HQ?
O processo de criação começou com uma ideia que me apeteceu e que sabia que poderia ser uma boa história. A partir dela entrei no processo de manipular a ideia mentalmente por um bom tempo. Entretanto, um fato aconteceu e foi bastante divulgado na mídia muito similar ao que estava trabalhando em minha cabeça. Foi um balde de água fria. Desde esse fato comecei a embutir diretrizes criativas no processo. Comecei a inserir variáveis dentro da ideia anterior, onde o principal conceito passou para um bom adendo à história.

O que tem te inspirado para compor a personalidade de Dette, a protagonista?
Sou fã de lutas. De qualquer tipo. Se estiver passando algum campeonato na TV, para o que estiver fazendo para assistir. Sempre observo muito os(as) lutadores(as) em todos os aspectos. Como ele(as) falam muito pouco com seus técnicos ali no minuto de descanso entre os rounds, as posturas antes das lutas, no momento em que o juiz explica as regras do combate e principalmente, no momento do embate. É nítido as expressões corporais enquanto os minutos se desenrolam. Sempre haverá duas hipóteses: um(a) vence e o(a) outro(a) é derrotado(a), entretanto, luta é luta e uma reviravolta pode acontecer em um golpe, em apenas um movimento, em uma fração de segundos. Tudo isso para dizer que Dette é uma lutadora em todos os aspectos. Daquelas pessoas que só se dedicaram para o esporte e tem potencial para aquilo. Dette é naturalmente combativa.

Esta é sua primeira obra toda em preto e branco? Como está sendo a experiência?
O minha primeira HQ, chamada Luzcia, a Dona do Boteco, é em preto e branco. Até pelo fato que havia acabado de deixar meu emprego e não vi outra alternativa para produzi-la. ELA já foi pensada e desejada para ser em preto e branco. Neste processo em PB estou sendo muito mais detalhista e criterioso. Não que nos meus outros trabalhos não tivesse sido, apenas sinto que estou 100% em cada linha traçada, em cada dialogo pensado e em cada cena montada. Estou realmente muito feliz de estar fazendo esse trabalho.

https://www.youtube.com/watch?v=m1dzvIpRVJo

Seus três últimos livros formaram uma trilogia. Como foi terminar esse projeto a longo prazo e como acha que evoluiu nesse período?
A trilogia foi um processo basicamente intuitivo. Até mesmo em percebê-la. Eu estava bastante ansioso para terminar a trinca quando ainda desenhava Limiar: Dark Matter mas tive que me conter! Eu já estava trabalhando mentalmente a ideia de ELA quando já estava com uns 50% de Dark Matter desenhada e isso ajudou a mitigar minha ânsia. Mas tenho de ser sincero em dizer do alívio que senti quando peguei o último álbum da trilogia nas mãos. A partir dali eu estava livre para escrever o que quisesse. O processo de evolução sempre existe quando você tem consciência, entende o que está fazendo e a que se propõe. Neste aspecto posso dizer que evoluí.

Agora uma evolução quanto a história, aos desenhos e a tudo mais que estou produzindo em ELA, os gabaritados para dizer isso será um(a) provável leitor(a). Sinto que meus desenhos melhoram e que escrevi uma boa história. É claro que isso é o que acho! Se eu não achar legal o que estou fazendo que vai achar? Aprendo muito com alguns amigos que tenho a liberdade de mostrar o que estou fazendo. Ficar no interior é algo que amo e sou um caipira de coração e alma mas por vezes, preciso consultar esses amigos. São poucas pessoas, mas muito criteriosas e isso me ajuda demais.

O que pode nos adiantar em relação à obra? Já tem previsão de lançamento ou formato da publicação?
Esse é o meu primeiro trabalho que não coloquei data de lançamento logo que comecei a desenhar a revista. Até mesmo pelo fato de ter terminado a trilogia e sentir que poderia fazer o que quisesse. Então, não há data de lançamento. Ano sim! Será em 2018. No tocante ao formato, quero sair do formato A4 que mantive nas três últimas publicações. Quero publicar algo em tamanho menor, em um papel diferente ao couchê e que converse melhor com o que estou preparando. Outro fato que posso adiantar é que será o trabalho mais diferente que já produzi. Isso posso dizer com a máxima certeza.

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Desenho de Salles para Dark Matter: Limiar, parte da trilogia do autor.

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