Entrevista: Porcas Borboletas

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Foto: João Paulo Bittencourt
Foto: João Paulo Bittencourt
Foto: João Paulo Bittencourt

O pop inventivo do Porcas Borboletas
Banda mineira lança novo disco tendo Paulo Leminski como regente punk e com uma sonoridade mais madura

A banda Porcas Borboletas, de Uberlândia (MG) lançou em agosto seu terceiro disco, homônimo. São doze faixas inéditas, escritas pelo grupo, além de um poema musicado de Paulo Leminski, “Only Life”. Neste trabalho é notável um amadurecimento da banda – “somos essencialmente uma banda anarquista. somos essencialmente pop”, dizem eles.

Baixe o novo disco

Formado por Banzo (voz e violão), Chelo (baixo), Danislau (voz), Moita (guitarra e voz), Ricardim (barulhos) e Vi (bateria), o grupo ficou conhecido na cena independente em 2005 quando lançaram Um Carinho Com Os Dentes. Depois, em 2009 foi a vez de A Passeio. Entre os sucessos estão parcerias com Clara Averbuck (“Menas”), “Super-herói-playboy”, com Leandra Leal, Arrigo Barnabé e Junio Barreto, e “Nome Próprio”, tema do filme de Murilo Salles. Neste novo disco, o direcionamento é bem mais pop, com destaque para as letras, que sempre foram o forte do Porcas.

Nesse processo de mudança, o grupo parece ter encontrado uma sonoridade mais coesa, que represente a expressão coletiva da banda. “Nove anos separam o primeiro do último disco. Um monte de coisa mudou. Algumas dessas mudanças, a banda percebe conscientemente. Na vida, parece mais fácil perceber o que mudou”, explicam. Veja abaixo uma entrevista com a banda.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=1U50qhNhjBM

O que une os três discos, tanto na sonoridade quanto na ideia?
Danislau: Nove anos separam o primeiro do último disco. Um monte de coisa mudou. Algumas dessas mudanças, a banda percebe conscientemente. Na vida, parece mais fácil perceber o que mudou. Perceber o que se manteve é um pouco mais difícil. A mudança grita mais. A trajetória do Porcas foi o desenvolvimento de algumas características, dentro de uma característica geral, mais estável. Talvez o Porcas seja essencialmente uma banda punk, com tendências anarquistas. Hedonista, sem sombra de dúvidas. Somos pelo prazer, pela festa, pelo vigor, pela saúde. Pelo vexame construtivo. Pelo exagero exato. Em termos de sonoridade, somos essencialmente pops. E uma das coisas mais legais do pop é isso: o pop é inventivo.

O novo disco tem um poema musicado de Leminski. Qual a importância do escritor para a banda
Danislau: O Leminski é regente. Ele construiu uma obra que é uma tomada clara de posição no mundo. A gente lê e vivencia esse universo desde o começo da banda. Nosso jeito de fazer letra, de pensar o rock, de pensar a circulação da mensagem, tem muito a ver com as coisas do Leminski. Esse lance de integrar paixão e trabalho, de fazer casar informação e volúpia, que a gente valoriza, também é uma coisa dele. Eros e dicção são as constituintes da “erudição” do Leminski, numa fórmula que ele mesmo propôs. Acho que isso se aplica ao Porcas também. Leminski é nosso regente punk.

Neste disco fica ainda mais claro a importância que as letras têm na banda. Como é o processo de composição?
Danislau: O processo de composição varia muito. Todo mundo na banda compõe. Um processo recorrente, e que talvez seja um dos mais interessantes, é aquele que pinta quando a banda se reúne com os instrumentos, abre uma cerveja, concentra toda a euforia numa sala de ensaio. Bate um acorde, pinta uma sequência, um groove, fica aquele terreirão do rock incendiando a madrugada. Essas condições são muito favoráveis pra criação do grupo. Fácil, fácil, alguém sai cantando alguma coisa por cima. Um celularzinho esperto capta o som. Pronto: pintou canção.

Como foi produzir o próprio disco? E por que decidiram não contar com a figura de um produtor desta vez?
Danislau: A nossa ideia original foi fazer o disco com produtor. Como levantamos esse disco praticamente do zero, de um momento em que as canções ainda não tinham arranjo definido, essa opção parecia a mais interessante. Mas quis o destino que a gente mesmo produzisse o disco. Fizemos tudo às próprias custas, não havia muita grana, e isso foi determinante. Assumimos a produção, colhemos os frutos e pagamos o preço disso. De qualquer maneira, ficamos satisfeitos. Tanto com o processo quanto com o resultado.

Vocês já se apresentaram em muitos estados e fora do país. Na opinião de vocês, fazer show é a melhor maneira de uma banda se divulgar hoje
Banzo: Show é essencial na vida de uma banda. É um ritual dionisíaco entre banda e público, que viram uma coisa só. Um show é determinante pra uma banda acontecer na vida de uma pessoa. A circulação em shows é fundamental pra formação de público de uma banda, assim como a internet. Pra gente, fazer show é uma necessidade vital, assim como estar na estrada. Essa experiência com o mundo nos alimenta.

Há planos para uma turnê deste novo disco?
Banzo: Com certeza. Agora que lançamos, o pé na estrada é nossa prioridade. Em julho já começamos com uma turnê no interior de São Paulo. E estamos articulando para estarmos em constante processo de turnê durante todo o ano.

Sei que já devem ter explicado isto diversas vezes, mas qual a origem do nome da banda?
Banzo: Sim, já explicamos várias vezes… E é sempre meio engraçado e embaraçoso. Porque esse não era o nome da banda em sua formação original. Como a banda surgiu meio que de brincadeira, o nome era de brincadeira também. E era impublicável (se puder e quiser publicar, o nome era Pau de Bosta). Aí quando a gente percebeu que estava virando uma banda de verdade, resolvemos mudar de nome (isso foi em 2002). Foi difícil, um sofrimento. Aí tínhamos uma música chamada Porcas Borboletas, letra de um amigo nosso, e achamos que esse nome, além de manter o PB, poderia criar um ícone que fosse uma pista pro que é o nosso som.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&list=PLRfZcVZYuuvV8hqXDr5A3TVN9wCXXAleQ&v=65ByW1iG7pg

Por fim, qual a lembrança mais remota que vocês têm sobre a formação da banda?
Banzo: Uma tarde (ou noite?) de muita risada na garagem da casa do Moita e do Danislau em Uberlândia, que foi o QG da banda no início. Brincando no violão, fazendo um jogo de coro vocal, a gente criava as nossas primeiras músicas. Nunca chegávamos no final, porque sempre alguém tinha uma crise de riso no meio. Nenhuma noção de aquilo seria uma banda. Uma das músicas que pintou naquele dia (Chamada) está no nosso primeiro disco.

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