Entrevista Tetine

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MENOS FUNK, MAIS POP
Por Hiran Hervé

Em tempos de pós-modernidade, na qual o excesso de informação é evidente, o cruzamento de diferentes estéticas e ferramentas se mostram cada vez mais presente no campo das artes e da música. Tetine, banda formada por Bruno Verner e Eliete Mejorado, é uma banda não apenas de músicos, mas de artistas. Artes visuais, performances e textos fazem parte de suas criações e dão iniciativa a novas tentativas de experimentações.

O Tetine se mudou para o Reino Unido em 2000 e lá não parou de produzir. Compilação de músicas produzidas nas favelas, álbum de synthpop e até uma parceria com a artista visual Sophie Calle endossam seu ringue de produções no exterior. Em 2004, a banda lançou Slum Dunk presents Funk Carioca Mixed by Tetine, pelo selo Mr. Bongo. A banda se tornou referência lá fora por trazer um dos primeiros dj sets de um baile funk para terras européias e deram uma segunda tacada no estilo com o lançamento do álbum Bonde do Tetão.

Agora a banda volta com seu mais novo trabalho, intitulado Let your X’s be Y’s. Emanando brincadeira e ironia sobre os gêneros, o título dá as caras de uma banda que tem muito de ironia e audácia na língua, além de coragem para experimentar. Por e-mail, Bruno Verner respondeu algumas perguntas para O Grito! e conta um pouco sobre a banda, sua trajetória, como é trabalhar fora do Brasil e logicamente, o novo disco.

O Grito! – Como surgiu o Tetine? Havia a real intenção de formar uma banda ou necessidade de um complemento para o trabalho que vocês já realizavam?
Bruno Verner – O Tetine surgiu por acaso. Nao havia real intenção de formar uma banda. Eu conheci a Eli quando eu estava fazendo uma trilha sonora para uma performance que ela fazia. Durante os ensaios a gente costumava improvisar com um piano e com os beats de uma bateria eletrônica. O que tava saindo era muito legal e esquisito. Aí comecamos a gravar umas coisas e adoramos. Depois de um tempo é que acabamos virando uma banda. E aqui estamos.

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Quando ainda moravam no Brasil vocês chegaram a lançar três álbums, sendo um deles trilha sonora para um grupo de dança. Porque a decisão de mudança para o exterior?
Sim, lançamos 3 álbuns no Brasil: Musica de Amor, Creme e Alexander’s Grave, todos lancados pelo nosso selo – High School Records – que funcionava na nossa cozinha mesmo. Também não imaginávamos que íamos ficar aqui na Inglaterra todo esse tempo. Viemos pra Londres para uma residência de arte que duraria 9 meses, daí uma pequena gravadora daqui chamada Sulphur Records convidou a gente pra fazer um álbum com a artista francesa Sophie Calle. Dai lançamos o Samba De Monalisa e resolvemos esticar a estadia por mais um tempo para fazermos shows, etc. E aí o que aconteceu que uma coisa levou a outra e estamos aqui até hoje.

Vocês acreditam que existe melhor recepção para algumas bandas no exterior do que no Brasil?
Eu acho que tem mais espaço pras bandas existirem. Mais lugares pra tocar. Aqui em Londres, por exemplo, tem uma banda por metro quadrado. O que gera a existência de muitas cenas diferentes.

Não temos definido se vai virar musica, vídeo ou performance. Vamos lapidando e criamos uma forma. As vezes pra uma música sair, precisa de uma performance ou vice versa

tetine 5Desde 2004, muito do que se ouve do Tetine está ligado ao funk. Este novo álbum segue a mesma linha?
Não, esse album é diferente. Tem uma pegada mais punk funk, mais kraut às vezes, mais old school electro, tipo Let The X be X. E é também bem melódico e melancólico. Tem canções e faixas mais experimentais convivendo juntas como “You’re The One” e “Mata Hari–Voodoo” e ao mesmo tempo tem faixas mais dançantes como “Entertainment N 249”, “What A Gift To Get” e “Everything Must Die”.

Porquê o nome “Let Your X’s Be Y’s”?
É um trocadilho. Pra gente significa 2 coisas: deixe o seu Ex (s) (namorados ou namoradas, amantes, esposas, maridos etc.) se ligarem porque ta vindo coisa nova por ai. E também tem o lado genético dos cromossomos x e y, significando a grosso modo: deixe o cromossomo X – que todos temos – aflorar.

O que se pode ouvir no conteúdo das letras desse novo álbum?
As letras falam sobre relacionamentos, domesticidade, auto-estima, terrorismo, sexo, velocidade, espionagem… e por ai vai.

A relação das artes visuais, corporais e de meios eletrônicos com o trabalho de vocês sempre foi muito próxima. O que procuram nessa interação?
Tudo faz parte do nosso processo de criação. As coisas nascem meio que juntas. Não temos definido se vai virar musica, vídeo ou performance. Vamos lapidando e criamos uma forma. As vezes pra uma música sair, precisa de uma performance ou vice versa. Estamos agora finalizando um trabalho novo que vai virar um álbum experimental chamado Lets do The Dream. Estamos super animados com esse projeto também. Vai ser apresentado numa exposição do Paço das Artes em São Paulo agora em Maio e depois vira disco também. Desse trabalho saiu uma musica super pop por exemplo, que provavelmente vamos colocar em outro contexto.

O Tetine vem tocar no Brasil este ano?
Temos um convite pra tocar no final do ano. Em setembro participaremos de uma exposição no MAM, provavelmente faremos shows nessa época.

MAIS TETINE: www.myspace.com/tetine

Tetine – Entertainment N249