Especial Watchmen: Germano Rabello

CONTANDO O FINAL DE WATCHMEN
Por Germano Rabello

Eu comecei a ler Watchmen pelo final. Meados dos anos 90, talvez 1995, algo assim. Já tinha lido algo a respeito da série de Alan Moore e Dave Gibbons. Estava ávido por descobrir mais. Um dia encontrei no sebo uma edição. Era a ÚLTIMA PARTE da série em seis edições (modo como foi organizada pela Editora Abril, cada edição = 2 edições americanas). Mas não era tão fácil assim encontrar Watchmen no sebo. Comprei assim mesmo e li. Não entendi muita coisa a princípio. Fui colecionando a história toda de maneira errática, misturando edições de 1989 com a edição de 1999 (também da Abril, desta vez em 12 edições). Até hoje não tenho a coleção toda, mas já li tudo (emprestado).

Então, pra facilitar minha vida, vou tentar concentrar este meu artigo especificamente na edição 11 de Watchmen, que foi a primeira que eu li. Vou dar um recorte bem radical. Se você tem medo de spoilers, você deve ser nerd. Não me leia. Alan Moore mostrou com Do Inferno que uma boa história de assassinato não precisa manter a identidade do vilão em segredo até o fim. De certa, forma, a minha leitura enviesada de Watchmen fez com que eu soubesse de que ________ era o responsável por tudo aquilo, me deixando livre para prestar atenção nos inúmeros outros aspectos da história.

Porque Watchmen é sobretudo, múltipla. São vários personagens fascinantes, visões de mundo distintas, técnicas narrativas diferentes, tramas dentro de tramas, histórias dentro de histórias. Dr. Manhattan, Roschach, Comediante, Ozymandias: todos eles inspirados por personagens de “segunda linha”, mais especificamente da Charlton Comics, foram elevados à complexidade psicológica dos roteiros de Alan Moore. A edição 11 de Watchmen traz o final da pequena obra-prima dentro da série: Contos do Cargueiro Negro. Uma das proezas técnicas de Watchmen foi contrapor de forma sublime o desenrolar dos acontecimentos “reais” (isto é, o que acontecia aos personagens principais da trama) com o mundo fictício da história de piratas que o garoto negro (Bernie) lê na banca de um vendedor mais velho e branco (também Bernie). Na edição 11 o Bernie jovem diz: “Vou ter que ler de novo… a história não diz nada!”, enquanto na outra esquina Joey (mulher lésbica masculinizada) espanca sua ex-namorada, o psicanalista Malcolm e sua mulher tentam se reconciliar, dois detetives policiais se aproximam para apartar a briga, e tudo acaba numa explosão branca que mata metade da cidade de Nova York. Watchmen é maior que qualquer spoiler: e essa é a lição que os roteiristas de quadrinhos e talvez os leitores, no mercado de super-heróis, ainda não conseguiram absorver. Não se perde o prazer de ler Watchmen porque cada grande evento está conectado a um série de pequenos acontecimentos, de uma maneira muito intrincada (teoria do caos) e a serviço de uma visão do mundo bastante lúcida.

Mas nem só de Alan Moore se fez Watchmen. Tem que se ressaltar o grande trabalho de Dave Gibbons. Embora eu considere sua forma de desenhar figuras humanas um tanto quadrada, caiu como uma luva esse tipo de traço para a história de Watchmen. Existe algo de elegante e algo levemente desengonçado, mas chama atenção o talento para compor os quadros, caprichando na expressividade de cada enquadramento, passando de uma maneira muita precisa as informações visuais, como grande contador de histórias que ele é. Ele realiza também um belo trabalho com as letras e balões. Da mesma maneira, é importante falar de John Higgins nas cores: digam o que quiserem, fan-boys, sonhem com uma nova edição colorizada com miraculosos degradês computadorizados, mas Watchmen não seria a mesma obra não fossem essas cores chapadas.

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