Fado Bicha e a música como ocupação nas tradições conservadoras

O duo faz show nesta quinta-feira (7) em São Paulo, no sábado (9) em Belo Horizonte e na quarta-feira (13), no Rio de Janeiro

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Capa do disco Ocupação/Divulgação

A dupla portuguesa Fado Bicha, composta por Lila Tiago e João Caçador desembarcam no Brasil pela primeira vez para a divulgação de seu disco de estreia OCUPAÇÃO. A primeira parada da dupla acontece nesta quinta (7), na cidade de São Paulo, mas Belo Horizonte e Rio de Janeiro também receberão o show do duo nos dias 9 e 13 de julho, respectivamente.

Ambas as integrantes se intitulam artisticamente como bichas e utilizam pronomes no feminino. No álbum, Lila é responsável por compor a maioria das letras e João é guitarrista e violonista. Entre as suas músicas, temas como a solidão de se descobrir gay ainda criança, assim como uma história verídica de um bailarino que passou toda sua vida internado em uma clínica psiquiátrica.

A grande intenção das artistas com o disco é justamente a de ocupar seus lugares na música portuguesa, desafiar os dogmas e o conservadorismo da sociedade e se fazerem escutados em um cenário onde pessoas LGBTQIA+ foram e continuam sendo, silenciadas por séculos a fim.

Fado Bicha foto Daryan Dornelles 1
Fado Bicha é um duo composto pelas artistas Lila Tiago e João Caçador/Divulgação

“Apresentarmo-nos como Fado Bicha e criarmos um álbum que bebe desse patrimônio de uma forma genuína e sem pedir licença a ninguém é ocupar um lugar que não existia senão em fantasia, é sentar à mesa numa cadeira que não estava lá”, afirma João Caçador.

Além de músicas originais, a dupla também apresenta em seu disco algumas releituras de figuras importantes para a comunidade queer e outros cantores da cultura portuguesa e até mesmo o nome do álbum se apresenta como uma força de resistência. OCUPAÇÃO significa ao mesmo tempo a apropriação da cultura por um duo LGBTQIA+ e a força do trabalho realizado por elas.

Clipe da música “Crônica do Maxo Discreto”, parte do álbum Ocupação

Lila explica: “As pessoas LGBTQIA +, embora façam parte dessa história e também da prática atual do fado, dificilmente puderam criar e deixar um legado artístico que refletisse integralmente as suas experiências e identidades. Há uma rigidez cisheteronormativa no fado, tanto na prática artística como na indústria que a sustenta, que espelha e talvez até ultrapasse a que encontramos na sociedade portuguesa ou na comunidade musical como um todo e que exclui muitas vivências e particularidades”.