Faixa a Faixa: Brothers of Brazil comentam “Melodies From Hell”

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Foto: Divulgação/Rafael Kent

Política e diversão segundo o Brothers Of Brazil

Por Renata Arruda

Batizada por Bernard Rhodes, ex-empresário da banda The Clash, a Brothers of Brazil, banda formada pelos irmãos Supla e João Suplicy lançou seu primeiro disco Punkanova (SideOneDummy Records (EUA)/Conheça A Amazônia (Brasil)) em 2009 mas foi em 2012, com o lançamento do single “On My Way”, presente no álbum de mesmo nome, que finalmente recebeu reconhecimento de público e crítica, sendo indicada ao VMB na categoria melhor banda e tendo a faixa considerada como uma das melhores do ano para a revista Rolling Stone Brasil. Com influências tão opostas que vão do punk à bossa nova, a banda foi encontrando sua própria sonoridade e em Melodies From Hell (SideOneDummy; 2014) apresenta seu som mais consistente e divertido, com temas que vão da consciência ecológica à insatisfação política, passando por términos de relacionamentos e uma inusitada festa inspirada na boneca Barbie (uma história real).

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Produzido por Jon Tiven e Jimmy Walls, o álbum traz quatorze faixas compostas pelos irmãos, que também gravaram quase todos os instrumentos — à exceção de Jon Tiven, que assume o sax nas faixas “Domingo de Manhã” e “Brasileiro Rock ‘n’ Rolla”, flauta em “Bowling” e gaita em “Go Go Girl” e Sally Tiven, responsável pelo baixo de “Tudo Pelo Poder”. “A criação desse álbum foi como uma pintura, a gente foi pincelando até que um resultado que nos agradasse muito surgisse na tela. Já ao vivo transformamos essa arte em energia, da maneira mais real possível. Todas as músicas que fizemos pra esse trabalho já testamos em uma porção de shows, e sentimos um bom retorno do público”, contou Supla em comunicado.

Supla também conversou brevemente com a Revista O Grito! sobre o disco e também sobre política, e ainda disponibilizou um faixa a faixa feito em conjunto com João Suplicy, em que explicam as ideias por trás das músicas do álbum. Confira:

Poderia comentar sobre a concepção do álbum?

Fomos compondo ele na estrada, tanto no Brasil como na América. Várias vezes na viagem temos tempo livre na van,  aí vamos conversando. Por exemplo, em uma turnê na costa da Califórnia junto com o Hugh Cornwell (ex-Stranglers), ele estava na internet e eu disse: “vamos fazer uma música ao invés de ficarmos só conversando no facebook!!”. Dito e feito, fizemos a letra e música dentro da van (a faixa “Bowling”). Chegou na passagem de som e já esboçamos como o arranjo iria ser. Cada caso é um caso, no quesito de fazer canções.  Musicalmente o álbum tem vários instrumentos e não se resume apenas a minha bateria e o violão do João. Pensamos que música é como uma pintura, você tem a tela e começa a colorir. Depende da canção, às vezes o simples é mais também. Existem canções sobre política, amor, fim de relacionamento e sobre o ser humano que só quer receber e não dar nada em troca, inclusive da sua relação com a natureza.

Vocês tiveram Jon Tiven e Jimmy Walls como produtores e eu li que a indicação veio de Bebe Buell. Como se deu isso?

Eu conheci a Bebe em Nova York durante o tempo em que morei lá (de 1994 a 1999 ), ficamos amigos e em 2011 ela assistiu um show do Brothers em NY e achou muito interessante a combinação minha com meu irmão. Chegando perto de gravar o álbum, a Bebe havia se mudado para Nashville e me disse que tinha uma dupla perfeita para fazer a produção do Brothers. O Jon já havia produzido  fantásticos artistas, tipo Robert Plant e B.B King, para citar alguns. Começamos a produção por skype. Durou 1 mês, aí embarcamos para Nashville e não perdemos tempo nem dinheiro no estúdio pois os arranjos já estavam prontinhos!!! Posso dizer por mim e pelo João que ficamos muito satisfeitos com a produção.

Em “Tudo Pelo Poder”, lançada no ano passado, vocês fazem uma crítica ao sistema político brasileiro. De lá pra cá, mais escândalos vieram à tona, mais aumentos de passagens nos transportes públicos – estopim para os protestos de junho de 2013 – mas, ainda assim, elegemos um dos congressos mais conservadores. Como vocês analisam o momento político que o Brasil vive hoje?

Esta canção foi feita como um desabafo! Tudo pelo poder! Parece que nossos políticos se esqueceram o porquê de estarem lá!! Vocês políticos estão aí para ajudar a população a viver numa sociedade melhor! Mais justa! E não fazer de seus cargos um escritório para facilitar os amiguinhos financeiramente. Existem bons políticos, não podemos generalizar…mas infelizmente ladroagem existe no mundo inteiro. Acho importante também reconhecer que nunca se teve um combate contra a corrupção como agora, o que não justifica o que esta acontecendo, na minha opinião, na Petrobrás.

Vocês acham que em momentos como esses é dever do artista se posicionar ou pensam que arte e política não precisam necessariamente se misturar?

Acho ridículo quem diz que está na moda falar de politica e se omite. Acho importantíssimo falar o que pensa; se não, qual o papel do artista? Seja qual for a opinião, precisa ser declarada e não importa as consequências! Ser um artista é estar se questionando e arriscando e não seguir a moda! Seja você!

O que o Melodies From Hell significa para vocês?
Significa que você tem que fazer musica e se expressar porque é isto que fazemos! O beat, a melodia e a mensagem! Those fucking melodies from hell!

MelodiesFromHell_capa_BrothersOfBrazil

Site oficial: http://www.brothersofbrazil.com/

Melodies from Hell, faixa a faixa:

“Melodies From Hell”
João – “Buscando umas coisas que tinha registrado no meu Iphone, achei esse assovio e quando mostrei pro Supla ele veio com a ideia da canção que desenvolvemos juntos com o Justin, parceiro em várias letras do álbum.”
Supla – “É uma música que tenho vontade de escutar toda hora, esse é o meu termômetro pra saber se uma música é um hit ou não. Entre as seções da gravação do CD em Nashville aproveitamos para fazer também o videoclipe dela.”

“Never Let You Go”
João – “Fizemos essa levando uma jam e saiu muito rápido. O solo de guitarra no meio foi gravado na verdade com violão de nylon distorcido, como costumo fazer nos shows.
Supla – “A letra fala sobre os países emergentes como Brasil, os vizinhos da américa latina que não vão mais ficar pra trás. O produtor Jon Tiven percebendo a força do refrão sugeriu que a base desse fosse só de bateria e percussão.”

“Tudo Pelo Poder”
João e Supla – “A maioria dos políticos parecem estar mais preocupados em conquistar ou manter o poder a qualquer custo do que em ajudar o povo. A melodia da música tem algo de nordestino e no show o público costuma se empolgar bastante.”

“Lucky Girl”
Supla – “O João veio com essa melodia sensacional, totalmente anos 60! Eu amo isso! A letra fala em acordar para o dia de uma forma positiva para enfrentá-lo. Gosto das minhas viradas de bateria principalmente na intro.”
João – “Eu estava na casa de uma amiga que tem uma espiritualidade muito forte e que tinha várias frases coladas no mural, todas muito positivas. A música é sobre isso e o arranjo ficou exatamente como eu queria.”

“Magic Lantern”
João – “Esse violão veio de um arranjo que eu fazia para a música “Retalhos de Cetim”, do Benito da Paula. Fomos desenvolvendo a melodia por um universo completamente antagônico, com o Supla puxando para um lado mais western. É uma das faixas em que gravei cítara que deu um certo tom medieval.”
Supla – “A faixa mais introspectiva do álbum. Tem uma levada tribal e uma melodia quase medieval onde exploro o tom grave da minha voz. Tem uma hora que parece que são vários cavalos galopando e seus guerreiros.”

“Domingo de Manhã”
João – “Estávamos num ritmo puxado de viagens e shows e embora a letra possa parecer falar de uma garota, na verdade estamos falando da busca desse  sentimento relaxado de um domingo de manhã”.
Supla – “Ska divertido com uma letra simples do dia-a-dia do trabalhador que espera ansiosamente o domingo chegar para ele ter sua paixão em seus braços.”

“Just To Fly”
João – “A música veio a partir do riff de violão. Na letra falamos das pessoas que deixamos para trás quando saímos em turnê e que eventualmente gostariam de sair da sua rotina. Adoro particularmente os vocais nessa gravação.”
Supla – “Pra mim ela revela um conflito amoroso e gosto muito da batida lenta com a melodia que remete a um sonho.”

“Go Go, Girl”
Supla – “Nós estávamos em San Diego, em turnê, e uns caras ficavam gritando ‘Play ‘Surfin’ Bird!’. Tocamos e foi muito bem. Aí eu falei para o João que nós precisávamos de uma música tão divertida quanto essa. “Yo yo Yo was a Go Go Girl”. João mandou muito bem no riff totalmente original de violão junto com seu vocal á la Elvis. A primeira parte eu respondo com um efeito bem anos 50 no vocal.”
João – “ O Supla teve a ideia e então puxei esse riff no violão sobre o qual ele já cantou a melodia e indicou para o a letra deveria seguir.”

“Bowling”
João – “Estavamos em Turnê com Hugh Cornell (ex- The Stranglers) e ele comentou que era fã de Tom Jobim. Toquei ‘Wave’ para ele no violão e resolvemos fazer uma música inspirada nela. Me lembro dele instruindo a gente cantar a palavra ‘bowling’ com sotaque inglês. Acho que era pra dar um tom mais sacana. (Risos)”
Supla – “O refrão simplesmente não saia da minha cabeça. (‘I tought i heard you calling, and in the end we could go bowling’). Expressão que serve tanto para jogar boliche quanto para ‘encaçapar’ uma mulher.”

“Mother Earth”
João – “Um violão influenciado pelo João Bosco, mas com a batera roqueira ganhou um tom mais Pop. Acho que a letra trata de um assunto muito importante.

Supla – “O homem só quer pegar da natureza e dar nada em troca (Sem cuidado nenhum). Por isso ela nos dá um tapa na cara com tsunamis, terremotos e alagamentos. Logicamente não é só por isso, mas na minha mente nós tínhamos que ser mais cuidadosos com ela. Lembrando que é uma história verdadeira, o Tom Jobim realmente tinha uma casa onde escreveu ‘Água de Março’ que foi varrida por uma enchente ocorrida em janeiro.”

“Wonderfully Clear”
Supla – “Meio latina (eu digo pelo beat e pelo uso da conga). Neste álbum eu nunca toquei tanta percussão, principalmente a conga está presente em quase todas as músicas. E meio sem querer a melodia veio totalmente Bowie. Os vocais no refrão, principalmente a voz do João lembra muito a do ‘camaleão’. Gosto da letra no que se diz de ver as coisas maravilhosamente claras.”
João – “Estávamos em Nova Iorque num lugar que eu não estava nem um pouco a vontade e estava louco pra sair dali, mas acabamos ficando e fazendo a música. Acho que ela traz mesmo um pouco desse sentimento de querer sair para um lugar melhor.”

“Brasileiro Rock ’n’ Rolla”
João – “ Um tributo aos arquitetos do Rock’n’Roll.”
Supla –  “Agradecemos a todos, quase todos, pois são muitos. Os grandes nomes do Blues e Rock que se alimentam uns dos outros e continuam nos inspirando.”

“Bons Momentos”
Supla – “Nos faz lembrar  o nosso primeiro álbum com um riff do violão do João hipnotizante. Gosto de lembrar que tivemos bons momentos com você.”
João – “Uma canção gostosa meio mântrica.

“Malibu Barbie”
Supla – “História verdadeira. Uma amiga havia me convidado para uma festa da Barbie em Beverly Hills. Eu não estava no pique, mas acabei indo. Chegando lá, só tinha ‘as barbies’ mais bonitas de Los Angeles – Barbie Astronauta, Barbie Equitação e por aí vai. Achei bem divertido falar sobre a festa na qual eu estava vestido de mim mesmo e me apelidaram de ‘Punk Rock Ken’. A levada da bateria casou muito bem com a guitarra.
João – O supla já chegou com a estrutura da música bem adiantada, inspirada numa história engraçada da qual ele participou. Aproveitamos um riff que já era tocado numa parte instrumental do show há bastante tempo.
Pode parecer maluco, mas é tudo verdade: Uma amiga de Supla o convidou para uma festa temática da boneca Barbie, em Beverly Hills. Ao chegar lá, trajado como de costume, ganhou logo o apelido de “Punk Rock Ken”. Uma parte instrumental já conhecida pelos dois foi remodelada para a canção para dar origem ao rock