Faixa a Faixa: Naná Rizinni comenta La Na Naná

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Imagem: Divulgação

O rock contraditório de Naná

Por Renata Arruda

Naná Rizinni é bacharel em instrumento popular e, como instrumentista, já tocou com músicos como Guilherme Arantes, Karina Buhr e Edgard Scandurra – hoje toca bateria nas bandas da cantora Tiê e Adriano Cintra, que produziu este La Na Naná, segundo álbum em carreira solo da artista. Seguindo o álbum de estreia I said (2011), cuja faixa “Nice Figure, Dangerous Heart” figurou em 2011 na lista de 35 melhores faixas do mundo do jornal The Guardian, La Na Naná traz doze faixas gravadas em analógico por Steve Albini, que segundo Naná “foi a cereja do bolo que reafirmou esta miscelânea do rock eletrônico com a música orgânica. Uma mescla sonora um pouco contraditória que aparece nas fitas, nos emblemas do nome e na capa do álbum, que traz a maquete da salinha da minha vida”.

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Com influências que vão desde Joy Division a Cheiro de Amor, passando por Novos Baianos e Madonna, La Na Naná teve 50% da sua verba financiada pelo público em uma campanha de crowdfunding e conta com a participação de Dudu Tsuda (synths e piano), Tiê (voz), Pedro Rangel (bateria), André Whoong (guitarra), além de Adriano Cintra (baixo, voz, piano e synths). O disco acaba de ganhar seu primeiro clipe, um vídeo para a faixa “Me Deixa Dançar” lançado pela Vevo e todo gravado em VHS e dirigido por Leandro HBL e traz a participação da Banda Uó.

Naná conversou com O Grito! sobre o álbum e disponibilizou seu faixa a faixa para a nossa seção. Confira a seguir:

Poderia comentar um pouco sobre a concepção do La Na Naná? A decisão de compor mais em português foi visando um público mais amplo ou apenas uma necessidade artística?

La Na Naná é o meu Segundo disco cheio (em 2009 lancei o EP Bacon Eggs e em 2011 lancei o disco I Said). O I Said tem mais elementos eletrônicos que esse segundo, La Na Naná. O meu primeiro objetivo era a busca de uma estética sonora mais orgânica, mais crua. Gravamos bateria, baixo e guitarra ao vivo pra atingir essa sonoridade. Procurei escrever mais em português para me comunicar melhor com o público em geral..

Sobre a produção, o que ficou a cargo de Adriano Cintra e qual a participação de Steve Albini? Como foi trabalhar com Albini?

Adriano e eu preparamos todo o disco antes de viajar para Chicago para gravar com Steve. Fizemos os arranjos, definimos timbres. Chegamos em Chicago com a pré-produção do disco pronta. Steve foi o engenheiro de som, trabalhou com excelência na gravação analógica do disco. Tudo foi uma experiência maravilhosa: estar com a banda durante 8 dias dentro do estúdio, assistindo de perto um mestre de engenharia de som trabalhar e ver o disco nascer. A gravação “ao vivo” transparece um pouco tudo isso que vivemos!

O que La Na Naná representa para você?

Cada disco novo representa uma fase da vida. Eu gosto de falar das minhas experiências de amor, de desamor nas músicas, e o Lá Na Naná é um convite pra entrar na minha “casa”, sentar no sofá ou onde quiser e ficar bem a vontade. A faixa que abre, a “Me Deixa Dançar” reforça esse convite. É pop, é rock, é brega, é dançante. Eu sou um pouco de tudo isso, e acho que no fundo todo mundo é.

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Site oficial: http://www.nanarizinni.com.br/

La Na Naná, faixa a faixa:

“Me Deixa Dançar”

Essa música abre o disco e é um pedido de licença pra deixar dançar: deixar falar o que pensa, usar a roupa que gosta, beijar a boca de uma pessoa com detalhes de uma estranha física. Enfim, deixar se expressar, sem querer ser julgada pelas pessoas em uma sociedade com tantas diferentes.. Escutar mais os astros e menos os outros.

“Prejudicada”

No começo era quase um chorinho. Aí virou brega. No final virou uma espécie de ska/surf//rock e uma típica história de frustração amorosa, e não tem quem não passe por uma decepção amorosa. E dói pra qualquer um, se é rock, surf ou brega. Me inspirei em alguns personagens que passaram na minha vida e que me deixaram humilhada e prejudicada.

“Manda Me Prender”

É hipócrita dizer que só deseja bem, que só quer amor. Na essência, não tenho dúvidas. Desejo só amor, paz e felicidade. Verdade. Mas já sonhei cada coisa horrorosa.. Nessa música o sonho foi do Adriano Cintra, mas eu já tive sonhos parecidíssimos.

“Sometimes”

As vezes a gente perde a nossa dignidade e tem que correr atras dela pra não perde-la de vez. Aí você recupera e fica tudo bem. Um pouco exagerado, mas quando a gente tá na merda, a sensação é essa. Aqueles relacionamentos que adoecem, e que você não consegue sair dele, e você entra nesse buraco. É quase um masoquismo. “I let you walk all over my body” (“Eu deixo você andar pelo meu corpo”).

“Feio”

Feio é uma espécie de brincadeira, só que séria. Brinquei com a sonoridade das palavras na melodia. Mas falo de padrões de julgamentos e da importância do diferente. Basicamente, em meio a tantos “não seis”, afirmar que o feio é bonito é, ao mesmo tempo, assumir as contradições, questionando os padrões e os absurdos que temos que lidar todos os dias.

“Ten Miles”

É tipo uma ficção que se passa no faroeste. É uma música contraditória: a parte musical é alegre, feliz, calma, cantada tranquilamente, com coros e assobios; mas, na letra, a personagem não aguenta mais seu ex-namorado. Ela está tão de saco cheio que ameaça matá-lo se ele não ficar a mais de 10 milhas de sua cidade. Me inspirei na música “My Girl” (The Temptations).

“Give Me Your Love”

Escrevi para o amor da minha vida, pedindo a ela que me mostrasse seu amor, para que eu pudesse terminar a música. Ela vem me mostrando desde então, e a música continua pra gente. É, no fundo eu sou super romântica brega…

“Sujeira”

Me inspirei em pessoas próximas, que amo e que são hipócritas e sofrem com isso. A necessidade de viver engessada, viver num mundo de mentiras. As pessoas tem um potencial, mas não usam, e isso afasta elas delas mesmas.

“Momesco”

Esse é o Axé do disco, que conta de um amor de carnaval que rolou em Recife. Foi um amor de adrenalina, igual é o Carnaval. Histórinha que aconteceu alguns anos atrás com Naná. Mas esse até que durou alguns meses e ela conseguiu se divertir um pouco.

“Cala Sua Big Boca”

Meu punkizinho de menos de dois minutos que conta de uma forma mais rebelde o mesmo que conta “Sometimes”. Só que em “Cala Sua Big Boca”, A “personagem” está um pouco mais atenta ao relacionamento que tá levando ela pro buraco. Ela consegue enxergar por trás da porta, através da fechadura e se protege dessa relação que pode acabar com ela.

“Tingles”

Essa musica aconteceu porque Tiê, Liz (sua filha que na época tinha menos de dois anos) e eu ficamos ilhadas na praia, dentro de casa por causa da chuva forte. Não tinha o que fazer, além de música. A Liz chorando de tanto tédio. E assim foi, até que saiu essa música. “I see myself at home just going crazy” (me vejo trancada em casa e ficando louca). Claro que a letra vai embora, entrei numa viagem meio da depressão “eu pasmo, eu giro, mas não saio do lugar… Esse formigamento na minha cabeça brinca com a minha mente e cega meus olhos…” Uma depressão mesmo, quando a gente se fecha numa casinha dentro da gente e não consegue sair, a gente fica um pouco assim, cega.

“Rock ‘n’ Roll”

Eu sou uma defensora do rock! Sempre falo: escuta um rock, vai te tirar dessa onda ruim e tal… Dança, toca, canta, rebola que tudo passa. Eu fiz essa música numa época que estava completamente obcecada por Jack White, ouvindo o disco Blunderbuss em loop. “I wanna play some rock n roll with you” é pra ele.