Festival TREMA! de teatro reforça discurso social e político

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Cena de A Invenção do Nordeste, baseado na obra de Durval de Albuquerque. (José Tellys Fagundes/Divulgação).

Desde 2012, quando o TREMA! surgiu como Festival de Teatro que carrega consigo um discurso social e político bastante presente por meio das peças. De lá para cá, o evento foi experimentando novas linguagens, ao mesmo tempo, que foi se aprofundando nas questões que angustiam a sociedade atual. Na sexta edição do festival, que começa neste sábado (26), o público poderá assistir a continuidade deste trabalho a partir do tema “Narrativas para uma humanidade em extinção”, com uma grade de espetáculos, cujas histórias afirmam a identidade do festival e da arte como forma de expandir as visões e atuar no mundo.

Das nove peças em cartaz, cinco aportam na capital pernambucana pela primeira vez. São elas: Mata Teu pai, monólogo interpretado pela atriz Débora Lamm, com direção de Inez Viana que traz em cena o mito de Medeia com um olhar voltado para a condição da mulher na sociedade; O Pequeno Príncipe Preto, espetáculo infanto-juvenil que mistura no palco diversas linguagens artísticas para contar a saga de um lorde que após viajar por vários lugares passa a valorizar a sua cultura afro, com atuação de Junior Dantas e a direção e texto de Rodrigo França; A Invenção do Nordeste, obra de auto-ficcção do grupo Carmin, dirigida por Quitéria Kelly e baseada no livro homônimo do historiados Dr. Durval de Muniz de Albuquerque Jr, que narra à história de um diretor que contrata atores para interpretar nordestinos e durante sete semanas de preparação eles começam a refletir sobre as dificuldades de viver personagens desta região do Brasil.

Outras duas obras que embarcam no Recife pela primeira vez são O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, interpretada pela atriz Renata Carvalho e direção de Natália Mallo, onde traz um viés contemporâneo das histórias contadas na Bíblia, propondo uma reflexão sobre a opressão e intolerância sofrida por transgêneros e outros grupos marginalizados; e DNA de Dan, performance concebida e realizada pelo ator Maikon K, que acontece dentro de um ambiente inflável transparente, onde o ator passa por sucessivas transformações na pele.

O idealizador do Festival, Pedro Vilela conta que o processo curatorial do Trema! é desenvolvido ao longo do ano e busca trazer assuntos que proponham um diálogo e reflexão sobre a atual sociedade. “Procuramos obras que nos tragam urgências em seus debates”, afirma. Vilela acredita que compete aos festivais de teatro na atualidade o lugar de resguardar trabalhos que vem sofrendo ataques conservadoristas no país, como são os casos de DNA de Dan e O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, censurados nos últimos anos. “Sem dúvidas esta é uma curadoria que não visa abrir concessões diante do papel da arte”, ressalta o idealizador, que também é encenador e apresentará o espetáculo Altíssimo no Festival.

Além do monólogo, as peças Solo e Guerra, Luzir é negro! e Alguém para fugir comigo, que já estiveram nos palcos recifenses ano passado, também integram a programação do TREMA!.

Durante oito dias de Festival, o público poderá participar de oficinas como a de Teatro Documentário Ibero – Americano e Crítica no Brasil Contemporâneo; de lançamentos dos livros Pasolini, do Neorrealismo ao Cinema Poesia, de Davi Kinski e Mata Teu Pai, de Grace Passo; das revistas TREMA! edição de Censura e Evangelização, além do encontro Representatividade Trans e Corpos Dissidentes com Renata Carvalho, Aurora Jamelo, Dante Olivier e Dandara Preciado.

TREMA! Festival de Teatro
De 26 de maio a 3 de junho
Locais de apresentação: Teatro Apolo, Hermilo Borba Filho, Marco Camarotti, Arraial Ariano Suassuna e Centro Cultural Benfica.
Programação completa, ingressos e horários no www.tremafestival.com.br