Fierro e a invasão dos quadrinhos argentinos

Noturno Fierro

IRMÃOS INVISÍVEIS
Seguindo caminhos distintos, mercado de quadrinhos da Argentina e Brasil voltam a dialogar com chegada da clássica Fierro

Paulo Floro
Da Revista O Grito!

O fato de serem vizinhos não impediu que os quadrinhos da Argentina e do Brasil ficassem praticamente invisíveis para ambos por décadas. Ambos seguiram caminhos distintos e ainda hoje os mercados seguem com poucos intercâmbios. Nos últimos anos, alguns títulos hermanos chegaram por aqui, mas o ápice desse movimento acontece neste primeiro semestre de 2011, com a checada da mais importante publicação de HQs da Argentina e uma das mais influentes do mundo, a Fierro. Lançada em formato livro, a edição nacional conta com autores brasileiros e histórias argentinas já publicadas no título.

Com edição da Zarabatana Books, a Fierro Brasil tem 160 páginas e um formato maior do que as edições argentinas. Além do diferencial de trazer histórias inéditas de autores estrangeiros, tem material nacional de autores promissores das HQs nacionais. São seis brasileiros: Danilo Beyruth, Gustavo Duarte, Santiago, Fábio Zimbres, Eloar Guazzelli e Adão Iturrusgarai. Este último é o mais conhecido, com tiras publicadas na Folha de S. Paulo e antologias publicadas pela Devir e pela L&PM.
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Crítica: Fierro e Noturnos indispensáveis na estante

Beyruth, um dos quadrinhistas presentes na Fierro, esteve na Argentina recentemente. “Achei curioso eles terem um mercado de quadrinhos tão rico e tão desconhecido da gente. Um é completamente invisível do outro”. O oposto também acontece. “Eles não conhecem Laerte, Henfil, do mesmo modo que não conhecemos os autores deles”. Seguindo trilhas distintas, cada mercado adquiriu características próprias. “O que pude perceber é que o quadrinhos argentino tem uma tradição de roteiro e aqui é algo mais ligado ao humor e terror”, acredita.

Na Fierro, esses dois lados conseguiram casar de forma interessante, o que talvez possa significar que os dois países tenham mais em comum do que muitos acreditam. Nas páginas do primeiro volume é possível encontrar o humor do absurdo de Adão e algo mais subjetivo e experimental de Carlos Nine. Até mesmo a best-seller Maitena, famosa na lista dos mais vendidos do Brasil ganhou seu espaço na revista. A edição original da publicação sai encartada no jornal Página/12, outro traço da personalidade do mercado hermano. Aqui, em formato livro, se adapta a algo conquistado nos últimos anos no Brasil que é vender HQs em livrarias.

No rastro da Fierro, a Zarabatana ainda publica o primeiro volume da Coleção Fierro, que irá lançar histórias que foram publicadas de forma serializada. O primeiro número já lançado é Noturno, de Salvador Sanz. Com forte influência do realismo fantástico tão ligado à literatura latino-americana, a história fala de amores obcecados, militarismo e outras dimensões. Dois jovens, Lúcio e Lúcia são canais para que pássaros enormes – os noturnos adentrem a Terra. O trabalho foi compilado em 2009 e já foi lançado na Espanha e na Itália.

Segundo Claudio Martini, editor da Zarabatana, o próximo livro da coleção será Dora, de Ignácio Minaverry. A história fala sobre uma garota de 16 anos e suas andanças pelo mundo. A outra novidade dos argentinos por aqui ainda é uma promessa. O maior clássico dos quadrinhos argentinos, O Eternauta, escrito por Hector German Oesterheld e desenhado por Solano Lopez vai ganhar edição nacional pela Martins Fontes. O livro é um dos mais famosos quadrinhos da Argentina, com diversas reedições desde que foi lançado em 1957. A história fala de uma invasão alienígena à Buenos Aires contada através de um sobrevivente. O roteiro traz forte conteúdo político e tornou-se espécie de símbolo portenho por ter sido lançado nas décadas de maior opressão do regime militar argentino. Oesterheld e seus filhos foram vítimas da ditadura. A HQ está prometida para este primeiro semestre.

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Contracapa da Fierro Brasil, com arte de Lucas Varela / Divulgação

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