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HQ Milady 3000 traz ação em meio aos escombros da aristocracia espacial

Space Opera italiana, HQ é uma mistura bem feita de influências orientais Zen, artes marciais e ficção científica

HQ Milady 3000 traz ação em meio aos escombros da aristocracia espacial
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Milady 3000
Magnus
Tai Editora, 96 páginas, R$ 79,90, 2022
Tradução: Pedro Bouça

“No universo de Milady, eu não queria pessoas comuns, nem monstros extraterrestres, nem alienígenas de qualquer tipo. Apenas a vastidão espacial. Sem mais problemas senão as intrigas, traições e conspirações que se teciam em cortes italianas do século 16, à sombra do Poder.” Foi assim que o autor Magnus explicou Milady 3000 em uma entrevista falando sobre o quadrinho.

Em Milady 3000, a criação de Magnus (1939-1996), pseudônimo do quadrinista italiano Roberto Raviola, criador de Necron, a erótica e controversa série de HQs, é apresentada a uma nova geração de leitores. Na história, o autor recria um universo de espacial aristocrático e decadente, onde estão as intrigas e os hábitos corruptos de uma corte, assim como os estranhos valores morais dos personagens em meio à uma guerra intergaláctica. 

Na amálgama de referências da criação de Magnus, há uma mistura bem feita de influências orientais Zen, artes marciais e os quadrinhos tradicionais de ficção científica. Milady é Paulonia Romana, uma condessa da dinastia imperial Zumo. Assim como Coronel Imperial, ostentando uma aparente segurança, atua em um contexto onde não existem extraterrestres ou monstros alienígenas, mas um mundo em que o homem alcançou o controle absoluto do universo com ciborgues e as mais sofisticadas máquinas. Apesar de fazer parte da aristocracia, ela foi criada com rígida disciplina militar.

Os personagens de Magnus são multifacetados mesmo na rigidez e formalidade do papel que lhes são atribuídos. Milady, em especial, sintetiza perfeitamente essas características. A grande força do quadrinho, e marca indefectível do autor, é a busca obsessiva pela perfeição gráfica e o chiaroscuro. Magnus usa e abusa de um apuro cênico, noção de espaço e o bom uso do preto e branco durante as páginas da história.

Publicada no mesmo ano de lançamento de O Império Contra-Ataca em 1980, Milady 3000 traz clara inspiração em Star Wars em sua trama. Na verdade, os dois são space operas filhos diretos de Flash Gordon. Inclusive, há um personagem em especial com traços idênticos a Darth Vader. 

Durante as páginas do quadrinho acompanhamos Milady indo aonde for preciso para evitar ameaças à hegemonia, o que significa desde desmantelar grupos de sucateiros espaciais até evitar golpes de outros nobres em busca de poder para elevar sua casta.

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A arte em chiaroscuro é um dos grandes destaques. (Divulgação).

Muito interessante o protagonismo e o empoderamento feminino em uma época em que o assunto ainda engatinhava. Magnus constrói uma heroína forte, independente e corajosa que desbrava as fronteiras da galáxia desbaratando poderes estabelecidos e déspotas corrompidos.

Apesar disso, o autor não foge do abuso erótico e de sexismo inerente ao período de criação da obra. A heroína não se furta em usar seu corpo para conseguir vantagens e a trama não economiza em momentos nos quais Paulonia possa aparecer nua, como era do feitio das ficções científicas europeias das décadas de 1970 e 1980.

Não espere por isso, porém, uma narrativa rasa no quadrinho. O gibi traz personagens tridimensionais e um universo rico, repleto de intrigas políticas, traições e batalhas espaciais. Para quem gosta de tramas de ação, com pitadas de espionagem, vai gostar de descobrir essa HQ. Para quem já conhecia do trabalho do italiano, a edição brasileira é uma boa adição ao nosso mercado de quadrinhos. E claro, há ainda o visual das páginas, que acaba sendo o grande diferencial da obra.

Muito importante que uma geração possa ter acesso a quadrinistas de diferentes países e escolas, ampliando sua visão da nona arte. E aqui é necessário elogiar o trabalho da Tai Editora, apresentando Magnus à novos leitores.

Compre: Tai Editora.

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