Joana Coccarelli: Instruções para o caso de um ataque nuclear

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aparentemente este folhetinho foi impresso pelo governo do oregon, stêitz, durante a guerra fria. a gente fica aqui elocubrando sobre as zilhares de catástrofes que podem se abater sobre nós e esquece que, até a queda do muro, o risco era muito mais específico e certeiro: caiu a bomba, rodou geral. se não morresse no ato, seria em poucas semanas depois depois.

1. remain calm
essa instrução é protocolar. o pessoal do governo do oregon não contava realmente com isso, mas precisa dizer mesmo assim. é quase uma piada de mau gosto.

2. avert eyes from flash
essa eu aprendi quando era pequena, naquele filme the day after. poltegeist tem um paralelo interessante, “não olhe pra luz!”, mas letra a) eu não acredito em espíritos e letra b) mesmo quando acreditava, a ameaça nuclear ainda me assustava mais. então não olhe para o cogumelo atômico.

3. space for blast
não entendi muito bem o que significa. na minha interpretação é algo como reserve espaço para um ataque de nervos ou algo do tipo.

4. duck and cover
um clássico dos anos 50: curve-se e procure proteção. a parte do place newspaper over head é que é novidade para mim.

5. reserve medical attention for high priority evacuees
hmmm, catchy essa. o que significa ser um acidentado de alta prioridade durante um ataque nuclear? estar altamente contaminado pela radiação – condição de toda e qualquer criatura num episódio como esse – não é de extremo risco? bem, sim. mas eu realmente seria solidária e abriria passagem para aquela vietnamita fritando com napalm, é verdade.

6. have food and water for several weeks of isolation
sério, esse é um lance que me incomoda. pra quê esticar a sobrevivência numa megacatástrofe fatal? se eu conseguisse proteção num porão cheio de água e comida, teria me arrependido depois quatro dias. primeiro porque a água e a comida eventualmente acabariam, e eu seria forçada a um calvário maldito na superfície por mais água e mais comida – contaminada; e, na disputa por uma poça ou uma cebola radioativas, eu correria o risco de morrer com uma machadada no crânio por uma família esfomeada ou algo do tipo. que fim de linha. muito mais digno torrar instantaneamente embaixo de um míssil.

7. comfort the dying
taí uma situação para a qual nós, ateus, somos useless (a menos que o mito de prometeu acorrentado, que denuncia o cagaço de zeus sobre o fim da fé humana, conte como conforto).

8. isolate corpses to prevent spread of disease
proliferação de doenças num ataque nuclear? desconfio que nenhum vírus demoníaco sobreviveria à radiação – enfermidades contagiosas seriam todas extintas. segundo que, caso sobrevivessem, com exceção do ebola, nenhuma doença mataria mais rápido que as conseqüências da bomba.

de repente o aquecimento global que está cozendo os cariocas parece atraente como uma noite de verão. da era do gelo.