Resenha: Lucas Santtana cria obra multiplataforma para desacelerar

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Novo disco tem narrativa que também inclui livro coassinado por J.P. Cuenca e Rafael Coutinho

O baiano Lucas Santtana chegou ao seu novo trabalho mais inovador e multimídia. Modo Avião, enquanto obra artística, é mais do que um disco. Os 40 minutos de narrativa traz uma história de dois desconhecidos em um voo que debatem sobre diversos temas que vão das relações pessoais, amor, consumismo até problemas sociais. Mas também é um livro coassinado por J.P. Cuenca e o quadrinista e artista plástico Rafael Coutinho (que também assina a capa do álbum). Para fazer seu disco existir também offline, Santtana fez audições do trabalho em “lounges” ao ar livre, com pufes e fones de ouvido.

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Acompanhar essa obra multiplataforma pode ser trabalhoso, mas confronta uma ideia estabelecida atualmente do consumo imediato de arte. Modo Avião, em sua versão livro, é bem inovadora, com dobraduras, desenhos em tamanho gigante e uma feitura quase artesanal feita pela editora Lote42. A história também surge ainda em áudio, inserido ao final do disco em duas versões, português e inglês.

Na sonoridade, Lucas Santtana aprofunda ainda mais suas experimentações pop, só que agora há mais delicadeza, buscando mais introspecção a partir dos arranjos. Há muita semelhança aqui com Sobre Noites e Dias (2014) com o mesmo tom, mas sem tantas inserções eletrônicas. Em faixas como “Árvore Axé” e “Vamos Andar Pela Cidade”, a pedida é desacelerar. “O Nome de Maria”, com influências do xote, é um dos momentos mais animados do álbum, mas não passa muito disso. O talento do baiano em construir hits pop estão presentes aqui em “Um Enorme Rabo de Baleia”, a melhor faixa do álbum e na canção-título, que mistura sintetizadores com o belo trabalho do Quarteto de Cordas da Dinamarca.

Lucas Santtana segue sendo um dos mais inventivos nomes do pop brasileiro e Modo Avião é seu trabalho mais ousado até aqui, ainda que não supere seu melhor momento, que foi O Deus Que Devasta Mas Também Cura (2012). O disco é um pedido de contemplação em um tempo todo doido e veloz. E isso é demais.

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Foto: Loiro Cunha.