Na França, a música como ação cultural

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Situada em Nantes, cidade-irmã do Recife, associação Trempolino investe em formação profissional voltada não apenas para o sucesso imediato

Da Revista O Grito!, em Paris

As artes formam o eixo central do grande projeto de requalificação na área central da cidade de Nantes, capital da região Pays de la Loire, localizada no noroeste da França. O Quartier de la Création, na Ilha de Nantes, ocupa cerca de 15 hectares onde antes estava localizado o principal parque industrial de construção naval da região, hoje desativado. Muitos dos edifícios e galpões foram reutilizados e novos espaços foram criados, agrupando empreendimentos – empresas e estabelecimentos de ensino – voltados para as indústrias culturais e criativas nos campos da mídia, moda, design, arquitetura, música e artes e espetáculos.

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É nesse contexto que encontramos, no Quartier de la Création, um dos centros de formação musical mais dinâmicos da França, o Trempolino à la Fabrique, laboratoire(s) artístique(s). A associação Trempolino surgiu em 1990, reunindo parceiros públicos e músicos, com o objetivo de acompanhar os artistas, os organizadores de concertos, os selos e desenvolvedores de projetos no campo musical. A partir de 2011, ela se instalou na Ilha de Nantes em uma sede própria com sete pavimentos, construída sobre um antigo bunker da Segunda Guerra Mundial.

Hoje, ela é um espaço de formação e de encontros aberta não apenas para a Europa, mas a outras partes do mundo. O seu projeto se baseia nos princípios da economia social e solidária e de cooperação e coprodução entre artistas, políticas públicas e empresas privadas. O espaço tem duas salas de concerto, uma com 1200 e outra com 400 lugares; um centro de experimentação e de criação multimídia, dezessete estúdios de ensaio e gravação e abriga projetos de inovação e propostas de cinema experimental e intervenções urbanas. A Trempolino tem uma formação diversificada e voltada para a música popular e contemporânea.

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O atual diretor da Trempolino, Olivier Tura, destaca os três eixos articulados propostos. O primeiro acompanha a diversidade das ações musicais, permitindo a colocação em movimento de diferentes formas de transmissão e de apresentação de práticas musicais, visando sobretudo ações culturais na região de Nantes. O segundo visa dotar os operadores culturais da capacidade de melhor conhecer o contexto onde eles estão inseridos e, ao mesmo tempo, aquisição de competências para uma melhor estruturação de projetos artísticos.

Por fim, o terceiro eixo busca formar artistas, técnicos e operadores culturais, favorecendo seus interesses pessoais e coletivos, a partir da aquisição de conhecimentos construídos entre os músicos e os profissionais em exercício. Olivier Tura observa que “a Trempolino busca atuar de forma integrada e aberta com os habitantes de Nantes, realizando ateliês para músicos profissionais, mas também com crianças, jovens, músicos amadores que vão ampliar o interesse por uma cultura musical em diversas comunidades”. Atualmente a Trempolino conta com 1200 pessoas nos diversos cursos e ateliês, sendo metade delas oriundas da região de Nantes e o restante de toda a França e outros países europeus.

Tura destaca ainda que o foco principal da associação é “criar condições para o músico se profissionalizar e ter uma atividade econômica duradoura atuando de diversas formas e não apenas usar o seu talento para ser um sucesso de vendas passageiro e depois cair no esquecimento”.

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A associação desenvolve ainda atividades em conjunto com diversos países europeus como Reino Unido, Itália, Croácia, Alemanha, Estônia e de outros continentes a exemplo de Cuba, Mali, Estados Unidos. Segundo o diretor pedagógico Karim Bennnani, essas atividades são relevantes por permitirem o intercâmbio de conhecimento e o aprendizado bilateral.

“Os músicos ao trabalharem em conjunto enriquecem as performances, conhecem novos estilos, incrementam sua capacidade criativa e põem em prova aquilo que aprenderam”, diz Bennani. A Trempolino também está integrada a eventos como o Printemps de Bourges e o festival Trans Musicales de Rennes uma forma de garantir que seus estudantes com projetos concluídos possam apresentar os resultados de seus trabalhos.

Com o Brasil, as relações com a associação até o presente foram tímidas e se limitaram a oficinas realizadas há mais de uma década no Recife e em Porto Alegre. Uma pena, pois como Nantes e Recife são cidades irmãs, em acordo firmado desde 2005, bem que os artistas locais poderiam estar aproveitando melhor essa condição e incrementar o intercâmbio tanto para aquisição de novas competências como para levar as experiências das margens do Capibaribe para os artistas das margens do Loire.

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