Papo com Juan Guiã, atração do Festival La Folie: “É importante falar sobre a existência das pessoas com deficiência”

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Juan Guiã, um dos novos nomes da cena pop de Pernambuco (Foto: Morgana Narjara / Divulgação)

“As pessoas não conseguem entender que é necessário esse olhar de inclusão para que os PCD’s tenham acesso a ocupar esses espaços”, observa o multiartista Juan Guiã, atração do Festival La Folie, evento cultural da agenda LGBTQI+ brasileira, realizado neste sábado (26), na área externa do Centro de Convenções, no Recife. Ser uma pessoa LGBT+ e PCD no Brasil ainda é uma questão pouco debatida. Tais temas geram diversas dificuldades para quem vive essa realidade diariamente. 

Os artistas e a maior parte dessa comunidade ainda são poucos amparados ou reconhecidos. Muitos deles enfrentam não somente a falta de espaço dentro deste mercado concorrido, mas também precisam encarar de frente o capacitismo, que é o preconceito contra pessoas com deficiência. “Para mim é bem difícil pois tenho múltipla deficiência, o que causa um grande transtorno e causa muita dificuldade quando participo de festivais e produções que não entendem a necessidade de certos equipamentos e tecnologias”, revela Guiã. 

O cantor e sua mãe, Regina Guimarães, tocam o Instituto Transviver, projeto focado para a comunidade LGBTQI+, que nasceu após a mãe do cantor desejar se envolver mais com as pautas da comunidade queer, como resultado das discussões que o artista trazia em suas redes sociais.

Recifense, o artista, novo nome da cena pop de Pernambuco, garante que a apresentação do festival da capital pernambucana promete mesclar pop, brega funk, além de outros elementos percussivos. No palco, estarão presentes ao lado dele, ainda, seis bailarinos, três backing vocals e uma DJ. Ao longo da sua carreira, que perpassa por  música, dança, teatro, performance e videoarte, o cantor pernambucano sempre faz questão de ressaltar espiritualidade, representatividade, resistência, liberdade e vivências enquanto pessoa LGBTQIA+. “A religião faz parte da minha vivência como indivíduo. Os meus pais são umbandistas, cresci dentro de terreiro de Umbanda e a espiritualidade sempre foi algo latente. Eram dois polos me salvavam das violências que vivi a vida inteira como pessoa LGBTQIA+”, conta.

Em exclusividade à Revista O Grito!, Guiã conta como é ser uma pessoa queer com deficiência e artista ao mesmo tempo. Confira:

Como surgiu o Juan Guiã? Quando você percebeu que queria ser artista e como é ser cantor? 

Juan Guiã sempre existiu, mas só que eu fui Juan Guimarães muito tempo, que é o sobrenome da minha família, todo esse período de vida que tentei corresponder às expectativas da sociedade de ser um artista heteronormativo, de certa forma, trabalhar com teatro, com televisão, tanto que fiz TV em duas temporadas de Malhação na Globo. Então, sempre que estava buscando ocupar esses espaços, usava esse sobrenome que é de família. E o Guiã veio como um sobrenome novo para trazer esse lugar, de um artista que faz e representa quem ele é. Foi quando decidi fazer música, que mudei para Juan Guiã. Faço arte desde pequeno, comecei com dança, com quatro, cinco anos já queria dançar.

Aos nove, comecei a fazer aulas e, aos 14 anos entrei na primeira companhia profissional, que foi a Vias da Dança e depois fui para a Cia Experimental. Dancei por muito tempo nessas companhias e depois dei início a trabalhos autorais de dança e de teatro. Em seguida, fui pro Rio de Janeiro, morei por lá e escolhi fazer música quando tinha 30 anos. Ser cantor é extremamente difícil e fazer arte também. A gente encontra muita dificuldade, não tem apoio da sociedade e nem do governo, que não dão suporte aos artistas, que ficam no limbo, não tem facilidade para trabalhar e nem encontrar mecanismos e investimentos.

Então, o trabalho do artista LGBT, nordestino, é muito mais difícil. Mas é sobre ter bandeiras, motivos pelos quais se faz parte. Os motivos pelos quais faço arte não são por dinheiro, é por que tenho causa, eu defendo uma comunidade, uma história de alguma forma. A minha arte está focada em trazer à tona e dar visibilidade à sociedade da minha comunidade. A motivação é muito maior do que as problemáticas que o sistema coloca. 

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Você transita por linguagens como música, dança, teatro, performance e videoarte. Como enxerga seu trabalho como multiartista? 

O meu trabalho como  multiartista veio desse lugar da necessidade de realizar. Como artista independente e que veio das artes cênicas, então terminei aprendendo nas minhas vivências nos palcos a aprender de luz, cenografia, de iluminação, vídeo, etc. Sempre gostei muito de saber de tudo, de mexer com tudo. Então, a arte sempre se expressou de forma plural no meu corpo. Gosto bastante dessas linguagens e, hoje fazendo música, é o lugar onde mais me encontro porque posso mesclar um pouco de tudo. Com música, faço não só música, mas também videoclipe, tem a parte ao vivo do show, que entra a performance, a dança, a fotografia, a cenografia, o figurino e a iluminação. 

Quando as criações surgem, elas acontecem de forma múltipla. Quando tenho uma, por exemplo, não penso apenas na música, mas é uma ideia sobre um universo. E, assim, esse universo já se propõe pra mim com cores, com textura, ambientação, imagem… Então, só tento materializar, de certa forma, uma obra de audiovisual, mas algo que aparece pra mim de forma muito consistente. Faz muito mais sentido pra mim ser um multiartista porque consigo me expressar através de várias linguagens diferentes: não só no corpo e na voz e na sonoridade, mas na cenografia, no vídeo a na performance. 

A religião é um tema presente na sua música. De onde vêm seu contato com a Umbanda? 

A religião faz parte da minha vivência como indivíduo. Os meus pais são umbandistas, cresci dentro de terreiro de Umbanda e a espiritualidade sempre foi algo latente. Eram dois polos me salvavam das violências que vivi a vida inteira como pessoa LGBTQIA+ por ser um corpo afeminado, uma fala afeminada e um corpo que se expressava dessa forma também. Na arte e na religião eram os locais onde eu curava as minhas violências. Na verdade, não é religião, mas a religiosidade, espiritualidade como prefiro dizer. A espiritualidade sempre foi um lugar de encontro com a minha essência, de fortalecimento e de cura. Termino trazendo tudo isso pra minha arte porque não tem como dissociar.

Arte e espiritualidade estão completamente cruzadas. Às vezes, posso não estar falando de forma clara, mas sobre espiritualidade em determinada música, mas intencionalmente, estou trazendo essas forças pra mim, pro palco e pra forma como me conecto com, como me comunico com o público. Tudo o que faço é pautado por esse filtro da espiritualidade, algo que pode ser um instrumento de cura ou de transformação, de reflexão. A gente, às vezes, pode realizar alguns trabalhos que parecem mais simples ou só objetivamente divertidos, mas sempre esse pensamento está presente, em toda criação e a preocupação de como pode tocar e transformar o outro, que é um pensamento muito espiritualista. 

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Juan Guiã tem identificação com uma parcela de LGBTS que buscam representatividade (Foto: Morgana Narjara / Divulgação).

A sua música carrega várias influências da chamada música “pop” mesclada com outros estilos. Como define a música que você produz? 

Gosto muito da linguagem do pop. Cresci nos anos 2000 vendo o programa Disk MTV e tive muitas referências de Madonna, Michael Jackson, Backstreet Boys, Britney Spears… Vi todos esses artistas ascendendo na cena. Eram coisas que consumia quando era adolescente. É meio que uma mistura dessas estéticas e dessas eras. Também tem uma pureza que gosto de resgatar na minha música dessa época. Quando trago uma estética pop, além de acreditar que isso é uma ponte pra me conectar com os mais novos hoje, de certa maneira é uma forma de me conectar com o meu jovem, que viveu essa música pop em uma outra era, uma forma interessante e bonita de juntar ideias que tenho vontade de falar que são mais delicados como transformação, medo, espiritualidade, morte, desejo.

A minha arte permite abordar esses temas de forma mais leve e divertida, com sonoridade mais dançante. Como minha formação é de dança e em todo o trabalho o meu corpo está muito presente, a música pop encaixa completamente, com os movimentos, funcionando em todos os sentidos. Enquanto conceito, esse cruzamento da música pop com essas questões, às vezes, são mais profundas de serem ditas e, assim, consigo dizer isso de forma mais leve e com o corpo e com a dança. 

A música pop tem a ver com a música popular. Como artista brasileiro e pernambucano, quando a gente traz o pop para uma estética brasileira para o forró, brega e tantas outras sonoridades, que é o pop originalmente brasileiro. Por mais que esteja fazendo uma música brega como em algumas que lancei, as próximas que irei lançar terão uma pegada mais regional, mas exaltando essa força, ainda é uma música pop. 

Você compõe as suas músicas e também realiza parcerias com outros artistas. Como é seu processo criativo? 

Eu componho todas as minhas músicas. São todas autorais, tanto letra, quanto música. Elas aparecem de forma muito orgânica porque além de serem autorais, falam também de vivências minhas e, assim, naturalmente, já surgem com uma sonoridade. Normalmente, aparece, vem à minha cabeça, aparece um refrão, uma melodia e, aos poucos, se apresenta pra mim. 

Sobre trabalhos em conjunto, já fiz alguns feats, o outro artista chegou com uma proposta de canção dele que já existia pronta e tinha um espaço ali que entraria e fui e escrevi minha parte. Esses tipos de parceria e de troca, acho muito interessantes, gosto e acho possível de fazer. Também tenho vontade de cantar obras de outros artistas que não fui eu que escrevi. A partir do momento que escrevo sobre o que vivi, que faz parte de minha realidade, de alguma forma, outra pessoa viveu isso em algum lugar. É aí que acho que a música autoral funciona. 

Não aconteceu ainda de eu cantar uma música de outro artista (com música pronta, com letra, com tudo), mas pode rolar mais pra frente. A priori, procuro valorizar o lugar do autor, pois faz toda a diferença. 

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A experiência musical do artista foi iniciada ainda no início da carreira de bailarino (Foto: Morgana Narjara / Divulgação)

De onde vêm as suas principais referências e inspirações? 

É muito engraçado, pois muita gente pergunta isso. Não costumo falar sobre inspirações, pois não saberia citar um artista pontual que me inspira. Sou mais de beber nos movimentos, pessoas, vivências e coisas do cotidiano. Isso tem mais peso na minha arte do que um determinado artista. Sou conectado com minha experiência, sentimentos e sensações. Então, nem abro muito o leque dessa possibilidade de um olhar para fora. Não sou de me propor a fazer tal trabalho e pensar em quais artistas poderiam me inspirar. Raramente isso acontece. Tento ser muito fiel ao que estou sentindo e realizo um mecanismo de trabalho que é muito orgânico e sensorial, que dá vazão àquilo que sinto e percebo, no entanto, nem sempre percebo. Eu crio de forma muito extintiva, que é um traço muito forte no meu trabalho. 

Lembra do seu primeiro contato com a música? Poderia contar sobre a sua relação com essa linguagem? 

Comecei minha experiência no palco com dança e, por atuar em companhias profissionais, normalmente, as trilhas sonoras dos espetáculos eram originais e instrumentais. Eram trilhas que nos guiavam por sonoridades e texturas musicais. Então, eu já tinha esse exercício de ouvido, de prestar atenção no que está sendo tocado e nas camadas das músicas. 

Minha primeira experiência com criação de música foi quando fiz meu primeiro trabalho autoral chamado “Por um Fio”, espetáculo solo de dança contemporânea. Essa foi a mesma época que decidi fazer o meu primeiro trabalho de música autoral. A música foi toda criada pensando na apresentação e nos sentimentos que queria provocar com aquelas cenas. Já tive a possibilidade com 19 anos e o trabalho autoral estreei com 20 anos. Com essa idade, já tava em estúdio criando, experimentando sonoridades e texturas, exercitando esse lugar de ter um sentimento, uma ideia, algo que queira dizer e como transformo isso em som e voz. Com essa idade já gravava vozes e já vinha com esse processo de criação musical. Dirigi e coreografei vários outros espetáculos que tinham trilhas sonoras originais. 

Aqui no Recife um dos trabalhos que criei foi na Cia Vias da Dança. Depois de muitos anos, fui convidado como coreógrafo e diretor para Dorival Obá, em homenagem a Dorival Caymmi, que, inclusive, fez uma turnê na Europa. Uma parte das canções era dele e a outra era uma parte toda trilha original. Então, sempre estive exercitando a criação musical. Fui diretor ainda de Lendas da América Latina, musical infanto-juvenil, que foi apresentado na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), com trilha original. Todas essas lendas tinham música e tive o prazer de escrevê-las. 

Esse projeto, inclusive, circulou bastante e fizemos uma participação no projeto do Doutores da Alegria. Atuamos dentro de redes de hospitais durante dois anos, no Rio de Janeiro, com realização em todo tipo de unidade: de câncer, queimados, emergência infantil, de idoso… Foi um trabalho bem delicado. Essa atividade foi, inclusive, a que me despertou realmente de trabalhar com música cantando, pois foi bem forte. 

Perto dos 30 anos, decidi trabalhar só com música como principal criação. A partir daí, passei a escrever pensando nessa linguagem. Sempre escrevi poemas, textos… Então, eu já realizava esse exercício de produzir música, só que em outra configuração: música voltada para dança ou para teatro…

Qual a importância de ser artista LGBTQIA+ no Brasil? Como você enxerga o atual momento político do país? Como tem recebido o impacto nas artes?

É falar sobre a desigualdade, pontuar toda uma violência que aconteceu para uma população que não teve os seus direitos básicos defendidos e respeitados. A arte entra, neste sentido, como uma voz. A ampliação de uma voz socialmente falando de uma comunidade. Como LGBT e por estar “antenado” por trabalhar com essa população, através de projetos sociais – faço parte do Instituto Transviver, que fundei com minha mãe há seis anos atrás, estou totalmente ligado ao movimento social. 

A partir do momento em que se produz arte, de certa forma, esse trabalho torna-se um ampliador. A voz dessa população atravessa pela minha arte e termino jogando isso socialmente e midiaticamente. Quanto mais pessoas conseguem receber essas mensagens sobre essas desigualdades, a gente consegue promover uma transformação mais rápida, mais efetiva e estimular a reflexão. 

As questões sociais não são apenas de uma comunidade, mas um problema do coletivo, de uma sociedade inteira. É fundamental que todos tenham consciência disso e, por sua vez, cobrem ao Estado, aos governos, enfim, a reparação, para que essa população viva de forma igualitária. A arte tem um papel fundamental quando se fala de política, sociedade, direitos, leis… A arte entra como uma chave para abrir debates e fechar violências. 

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Juan e sua mãe estão à frente do Instituto Transviver, projeto focado para a comunidade LGBTQI+ (Foto: Morgana Narjara / Divulgação)

Sendo artista brasileiro, o impacto nas artes é terrível. Infelizmente no país, é extremamente desvalorizada, exatamente porque as pessoas não enxergam o poder da arte socialmente. Muita gente comenta na internet ou de forma pública defendendo que a arte deveria sobreviver e não ter direito a leis, editais, financiamentos públicos, sobrevivendo por si só. E muitos não entendem que a arte está para as pessoas como instrumento social mesmo. A valorização da arte deveria ser totalmente diferente, indo para esse lugar da educação, um direito básico. Na verdade, deveria ser um direito básico, só que no Brasil não é vista dessa forma. 

A desvalorização tem um impacto muito grande na vida dos artistas. Quem produz arte e não tá no mainstream – muita gente se baliza pelo que chega pra elas de informação e normalmente são as notícias de pessoas populares e conhecidas – mas a realidade mesmo é que existem milhões de artistas brasileiros que vivem de forma muito precária e desigual e que fazem arte porque não é uma escolha, mas fazem arte por serem artistas. Então, somos submetidos a levar jornadas diferentes para poder sobreviver, atuar em outras áreas que não são arte para poder pagar conta, aluguel, poder se vestir, enfim, ter o básico. Por que esse “básico” não é garantido pelo estado. 

É bem difícil ser artista. E ainda mais ser artista independente LGBTQIA+ e nordestino. Quanto mais existem esses recortes, mais essa desigualdade se aprofunda. Um artista LTBG, periférico, um indígena…Todas essas questões que já são invalidadas e invisibilizadas socialmente, quando ainda se localizam como artistas, elas sofrem muito mais.

E já emendo com outra pergunta: como é ser artista e PCD ao mesmo tempo? Qual impacto para realizar o seu trabalho e a recepção do público neste sentido? 

Para mim é bem difícil pois tenho múltipla deficiência: baixa visão do olho esquerdo e baixa audição do ouvido esquerdo por conta de um acidente que sofri ainda pequeno, no São João, quando uma bomba caseira explodiu no meu rosto e perdi parte dos sentidos, o que causa um grande transtorno e causa muita dificuldade quando participo de festivais e produções que não entendem a necessidade de certos equipamentos e tecnologias como fones in near [fones intra-auriculares que permite uma vedação de som maior], que são caros. 

Tenho muita dificuldade quando vou fazer um show e a produção não quer adquirir esse fone, a gente explica a importância e alegam que fica caro alugar o equipamento. Há uma dificuldade de produções de eventos, festivais ou contratantes que não entendem que é uma questão básica no meu caso para poder exercer minimamente meu trabalho, pois é impossível cantar sem se ouvir, né? Isso faz parte do mecanismo da música.

Para poder cantar de forma correta, preciso estar me ouvindo. Por ter baixa audição, se não consigo escutar, isso precisa ser levado em consideração. A população PCD é completamente invisibilizada, quando vivemos numa cidade [Recife] que não é estruturada para receber esse público. As pessoas não conseguem entender que é necessário esse olhar de inclusão para que os PCD ‘s tenham acesso a ocupar esses espaços. Se alguém como contratante de um artista com deficiência não leva isso em conta, vai excluir todo tipo de artista que tem alguma questão. Onde estão os artistas PCD ‘s? E os artistas PCD’s LBGT’s? Falo não só em relação às minhas questões, mas tantas outras, de tantos outros indivíduos que vivem outras especificidades com relação à deficiência. É muito importante tocar nesse aspecto. Eu não vinha falando muito nesse tema, mas tenho abordado esse ponto cada vez mais porque é extremamente importante trazer luz a respeito.

Mais uma vez eu falo: por isso a arte é política! É por essa razão que está ligada diretamente ao político. De que forma eu consigo usar minha fala e criação para dar espaço para o tema? É importante falar para a sociedade entender a existência das pessoas com deficiência e que elas têm o direito de viver de forma digna e ter como ir e voltar, por exemplo. A legislação determina que todos têm o direito de ir e vir, mas nem todo mundo consegue porque a cidade não acolhe: o caminho da calçada não é o mesmo para um cadeirante e uma pessoa que anda. É sobre essas reflexões e a arte atua como instrumento de transformação. 

Você é uma das atrações da primeira edição do La Folie Festival Recife neste sábado. Qual a expectativa para esse encontro com o público na sua terra natal? O que o público pode esperar dessa apresentação?

Como recifense, estou feliz de estar trazendo outros artistas comigo. São seis bailarinos locais, uma DJ, três backing vocals. O palco tem cerca de dez artistas comigo, que são daqui. Não é só sobre mim, mas o coletivo, uma força do Recife que está no palco: diárias diferentes da dança, da música, da performance,do canto… Estou muito feliz de estar mostrando para o nosso público os nossos artistas. 

Vai ter um pouco de tudo. Recife é uma cidade que respira essa mistura, da pluralidade, muito quentes, indo do movimento manguebeat, brega funk, brega romântico, pop… Espero que as pessoas se sintam representadas no palco, que o público se enxergue como recifenses, como pernambucanos e nordestinos. 

Estamos bem satisfeitos, todos os artistas envolvidos nesse show estão bem empolgados com o resultado. Acho que deve ser um trabalho bem bonito e bem pontual, principalmente quando a gente para pensar que: é um festival que tem uma proporção de artistas nacionais e internacionais por conta da Pabllo Vittar, da Gloria Groove e também da Iza, que já estão fazendo sucesso e turnês fora do Brasil. Quando a gente pensa num evento dessa dimensão e local, só teremos eu como artista LGBT nordestino, recifense, acho que isso tem uma importância grande. Acho que vai ser bem bonito no sentido de representatividade de artistas locais, vai ser bem potente. 

em tempo: a cantora Iza estava confirmada há meses como uma das principais atrações do La Folie, mas na véspera do evento, nesta sexta (25), testou positivo para a Covid-19. Ela passa bem, segundo a assessoria de imprensa. Em seu lugar, a pernambucana Priscila Senna foi convidada para substituí-la.