Pearl Jam retorna ainda mais político e pesado no novo Gigaton

Primeiro disco de inéditas em sete anos, o novo trabalho mira contra o obscurantismo com muito peso e experimentalismo

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Foto: Danny Clinch/Divulgação.
Pearl Jam retorna ainda mais político e pesado no novo Gigaton
8.2

A inquietação sempre foi o motor criativo para o Pearl Jam. 30 anos e 11 depois depois, ainda podemos dizer que a banda liderada por Eddie Vedder mantém firme seu interesse em fazer da insatisfação um escape para um rock que recusa em se acomodar. O engajamento político do grupo, que vai bem além do puro verniz estético, mira suas atenções para o populismo e os tempos obscuros de negação à ciência e neofascismo. O fato de Gigaton ter na capa uma geleira derretendo, por si só, soa como uma provocação.

A arte da capa traz uma foto intitulada “Ice Waterfall”, capturada pelo fotógrafo, filmmaker e biólogo marinho canadense Paul Nicklen. Tirada em Svabald, na Noruega, a imagem retrata a calota de gelo de Nordaustlandet, que se derrete em enormes quantidades de água. O conhecido ativismo ambiental do grupo aparece em faixas como “Dance Of The Clairvoyants”, além de fazer parte de diversas outras faixas, de maneira subjetiva e por vezes sarcástica.

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Carregadas politicamente, as letras são cheias de nuance ao denunciar a falta de conexão entre as pessoas e o estado do mundo atual, em caminho claro ao obscurantismo. Já em outros momentos do disco nos deparamos com abordagens mais diretas como críticas ao negacionismo científico e ao capitalismo globalizado. As composições se conectam com as vivências políticas dos integrantes dentro e fora dos palcos, com um ativismo voltado sobretudo para a defesa do meio ambiente. Não à toa, a última música inédita da banda antes deste disco foi “Can’t Deny Me”, sobre o aquecimento global.

O som segue afiado com os velhos maneirismos do grupo (quem estava com saudade do vocal meio esganiçado de Vedder?) e devem agradar aos fãs mais antigos. As quatro primeiras faixas trazem uma bem azeitada profusão de riffs e fúria em uma produção sofisticada que deu origem a um som encorpado semelhante à fase mais indie-rocker do grupo (tipo o Binaural, de 2000). A metade final do disco perde em força, mas mostra o grupo aberto a outras influências sonoras (como o folk/country de “Retrograde”) e a surpreendentemente experimental faixa final, “River Cross”.

Resistindo a se apegar à fórmula, o Pearl Jam segue como um dos mais lúcidos grupos do rock.

PEARL JAM 
Gigaton
[Republic/Universal, 2020]

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