Poesia urbana e contestadora de Miró da Muribeca ganha versão em HQ

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O poeta pernambucano Miró da Muribeca tem sua produção periférica, urbana e contestadora transformada em HQ em Tô Miró, lançamento da Casa do Cachorro Preto, fazendo sua estreia na produção editorial. 30 textos de Miró foram desenhados por 5 ilustradores: Raoni Assis, Flavão, Ayodê França, Shiko e Christiano Mascaro.

O lançamento da HQ acontece no Sábado, 30 de abril, às 18h, na Casa do Cachorro Preto, em Olinda, com a presença dos quadrinistas e de Miró. “Os textos de Miró são muito cheios de imagens, e os ilustradores escolhidos tem nos seus desenhos a força do discurso, acho que foi uma complementação bem simples”, explica Raoni Assis.

O projeto gráfico da publicação, com capa dura e título em relevo, é assinado pelos designers Daaniel Araújo e Celso Hartkopf. A edição e produção executiva são da jornalista Sheila Oliveira. Wilson Freire assina o Prefácio.

Os textos foram escolhidos pelo próprio Miró com a curadoria de Raoni Assis e Sheila Oliveira. Na seleção estão alguns dos mais conhecidos como “Belinha” (desenhado por Shiko), “Elza” (por Flavão) e “Sacos de cimento” (Raoni), “Guarda-Roupa” (Mascaro) e “Vira-lata” (Ayodê).

Miró é conhecido pela sua impressionante oralidade que dá imagem e poesia ao cotidiano. Nascido em 1960 ele faz poesia e crônicas desde 1985 e já teve trabalhos publicados e premiados em todo o País. Entre suas obras estão Quem Descobriu Azul Anil (1985), Ilusão de Ética (1993), Entrando Pra Fora e Saindo Pra Dentro (1995), São Paulo Eu Te Amo Mesmo Andando de Ônibus (2001), Poemas Pra Sentir Tesão ou Não (2002), Pra Não Dizer Que Não Falei de Flúor (2004), DizCrição (2012), Miró Até Agora (2013) e aDeus (2015).

Esta é primeira vez que são reunidos textos de Miró em uma HQs, assim como também é a primeira publicação assinada pel’A Casa do Cachorro Preto.

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O lançamento também marca a retomada das publicações de quadrinhos em Pernambuco, o que por si só já traz muita expectativa. Batemos um papo rápido com Raoni Assis, ilustrador e um dos idealizadores do projeto.

Como surgiu a ideia de levar o trabalho de Miró para os quadrinhos?
Desde sempre que ouvia ou lia Miró, pensava em imagens. Quando ouvi ele recitando “Desabafo” resolvi pedir a ele para desenhar. Numa conversa com Miró, cada texto lembrado instigava para um desenho. Escolhemos então 30 textos, pensando já em outros desenhistas e quem seria melhor para qual texto.

Como foi fazer trazer a poesia do autor para as imagens e narrativas das HQs? Ele participou de alguma forma do processo?
Os textos de Miró são muito cheios de imagens e os ilustradores escolhidos tem nos seus desenhos a força do discurso, acho que foi uma complementação bem simples. Ele participou desde o começo. Quando falamos com ele a resposta foi: eu quero entrar junto nesse projeto, ver tudo. Na segunda conversa já saímos com o título, na terceira com os textos e todo o processo foi muito bem conversado.

De que modo a HQ pode ampliar o alcance da obra de Miró?
A força da oralidade na poesia de Miró já é bem conhecida. A HQ amplia na imagem, não somente ilustrativa, seu texto. Amplia o sentido, mas amplia na aproximação do texto com o que ele diz.

Esta é a primeira publicação impressa da Casa do Cachorro Preto? Vocês já planejam alguma novidade para breve? Pensam em formar um catálogo de títulos?
Sim é a primeira. Temos projetos engatilhados. A ideia ousada é ter a publicação como uma das vertentes da Casa, mas isso é porque não abrimos mão dos sonhos. Na verdade, só conseguiremos fazer se tiver incentivo como esse agora teve.

Recife já foi um polo da produção de quadrinhos, mas nos últimos anos a cidade foi perdendo força nessa expressão, ainda que tenhamos muitos artistas talentosos produzindo. Creem em uma retomada da cena local? O que acompanham nesse sentido?
O que nós sentimos é que de uma forma geral nas artes visuais ganhamos uma força, porque estamos em outros canais de comunicação por meio da internet e tem uma turma se esforçando como pode para se expressar. Mas ainda faltam situações de encontros, apresentações de trabalhos, festivais, etc.

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