Quadrinistas latinos reinterpretam contos de fadas no sombrio e divertido Na Floresta

HQs de nomes como Liniers, PowerPaola e Federico Pazos recuperam o tom pesado das histórias originais dos Irmãos Grimm

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Cena de abertura de João e Maria, de Pazos. (Divulgação)
Quadrinistas latinos reinterpretam contos de fadas no sombrio e divertido Na Floresta
8.5

Os contos de fadas têm sua gênese nas tradições orais europeias, mas foram entronizados na cultura popular por conta das narrativas dos Irmãos Grimm. Mesmo aqui, no Hemisfério Sul, totalmente deslocados das referências das histórias originais, damos importância e relevância às desventuras de Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, João de Ferro, entre outros. Por isso é bem interessante uma obra como este Na Floresta, em que quadrinistas latinos reinterpretam essas lendas. Nomes como Powerpaola, Liniers e Federico Pazos participam da edição com um olhar bem original para essas histórias tão conhecidas.

Cada história foi recontada por um artista diferente: “João e Maria”, por Federico Pazos; “João de Ferro”, por Pablo Cabrera; “Branca de Neve e Rosa Vermelha”, por PowerPaola; “A senhora Holle”, por Decur; “Jorinda e Joringel”, por María Elina Mendez; e “O príncipe Sapo” por Liniers. O livro se destaca pela diversidade nos estilos com cores suaves de Decur convivendo na mesma edição com a monocromia de Paola, por exemplo. Tem ainda espaço para humor (caso de Pazos) e até uma experimentação estética entre quadrinho e livro ilustrado (a linda história de Cabrera).

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O que todos trazem em comum é a abordagem narrativa que busca recuperar o tom das histórias originais, mas sem perder o encantamento e o tom fantasioso. Pensado como uma forma de educar as crianças em tempos difíceis, os contos organizados por Jacob e Wilhelm Grimm entre 1812 e 1815 eram preenchidos com uma moral que hoje nos soa violenta e dura demais para os pequenos. É que o tom sombrio dessas histórias foram amenizados com o passar dos séculos e ganharam um verniz fofo à medida em que foram embalados como produtos comerciais (tipo Disney e similares).

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Detalhe de Jorinda e Joringel, de María Elina. (Reprodução)
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As histórias não chegam a ser tão pesadas quanto às originais, mas recuperam um pouco o tom das narrativas, que já foram chamadas de “primeiras conselheiras da humanidade”, uma forma de alertar os pequenos sobre os perigos do mundo. Essa HQ é também uma ótima oportunidade para conhecer contos não tão difundidos dos Grimm, como a “Senhora Holle”, assinada por Decur, uma história bem violenta sobre ganância. O mesmo vale para “Jorinda e Joringel”, que teve traço de Elina Mendez, uma história de amor cercada de tragédia. Há também novas informações sobre contos conhecidos, como PowerPaola faz em “Branca de Neve e Rosa Vermelha”.

Na Floresta traz autores latinos já conhecidos por aqui como Liniers, Powerpaola e Pazos, mas traz ao público brasileiro a oportunidade de conhecer artistas como María Elina Mendez, Cabrera e Decur. É uma pena que a obra tenha sido lançada de maneira discreta ainda no final do ano passado, o que destoa do seu real valor tanto para a ainda pequena bibliografia de quadrinhos latinos com edição em português, bem como a abordagem original para contos famosos dos Irmãos Grimm.

NA FLORESTA: CONTOS DE FADAS DOS IRMÃOS GRIMM EM QUADRINHOS
 De Decur, Liniers, María Elina Mendéz, Pablo Carrera, PowerPaola e Federico Pazos
 [WMF Martins Fontes, 91 páginas, R$ 44,90 / 2019]
 Tradução de Sergio Molina

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