Sandy & Junior, nostalgia capitalizada (mas não só isso)

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Os irmão Sandy e Junior Lima e a turnê Nossa Hostória: 10 cidades. (Foto: Ale Frata/Divulgação)

O Brasil vive um momento de nostalgia e de recordação dos grandes sucessos da música pop. A volta de Sandy & Júnior para uma turnê com ingressos esgotados – e muita comoção – em todo o Brasil é prova disso. A premissa é parte da indústria do showbiz e esteve presente nos EUA e Europa desde sempre, com “comebacks” bastante populares e “retornos” que miram a saudade dos fãs. Aqui no Brasil, o fenômeno é relativamente recente.

Se retrocedermos no tempo, voltando para 2012, encontraremos um dos primeiro marco: a festa “Chá da Alice”, fundada por Pablo Falcão, que trouxe a cantora Kelly Key de volta aos palcos.

Mas, foi em 2017, que tudo mudaria. A volta de grandes sucessos dos anos 80, 90 e 2000 voltaram aos palcos depois de longos anos de hiato. Depois de longos anos da festa Chá da Alice tentando convencer a eterna Rainha dos Baixinhos, Xuxa, a fazer um show, finalmente eles conseguiram: idealizaram o “XuChá: o chá da Xuxa”, sendo o primeiro show, depois de anos, a embarcar em turnê.

A partir desse marco, outros artistas e grupos decidiram investir na memória afetiva dos brasileiros, trazendo seus shows. Dentre eles, estão: Rouge, Balão Mágico e Trem da Alegria. Porém, hoje o Brasil vive outro momento de euforia, assim como quando anunciaram a volta de Xuxa aos palcos: o retorno dos ídolos do teen pop brasileiro, Sandy & Junior.

Depois de 12 anos separados, eles vão embarcar na turnê “Sandy e Junior: Nossa História”, que marca a volta dos irmãos, juntos, ao palco, para comemorar 30 de carreira da dupla. Em diversas capitais do Brasil, os fãs enfrentaram filas quilométricas, numa grande euforia para comprar os ingressos. Mas, além de uma nostalgia capitalizada com sucesso, a turnê celebra também uma das duplas pioneiras no pop brasileiro, carente de ídolos teen massivos.

Todo esse sentimento de nostalgia é explicado pelo doutor em Comunicação, Alan Mangabeira, que desenvolve pesquisa sobre cultura pop. Para ele, esse retorno “é reflexo de uma fase nostálgica, das gerações que nasceram nos anos 80, já estarem chegando aos trinta anos. É um ponto de visualização do que aconteceu até essa idade, o olhar para trás, e enxergar o futuro”, explica.

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O Prof. Dr. Alan Mangabeira estuda fandom e estética em cultura pop (Foto: Hugo Guilherme/IHG Estúdio)

Nesse sentido, a música assume um importante papel, já que todas as pessoas, independente de classe social, gênero e etnia, ouvem. Essa ligação embala as memórias afetivas. “O olhar pra trás é mais confortável quando é embalado com a música pop, porque traz memórias muitos felizes, como Xuxa, Balão Mágico e Sandy & Junior”, completa Alan.

A jornalista e fã da dupla, Anamaria Nascimento, garantiu seus ingressos para um dos shows que acontecerá no Recife. Sandy e Junior fizeram parte da adolescência dela que, colecionava CDs e cartazes. Segundo Anamaria, àquela época não se tinha uma variedade grande de artistas teen para ser fã, e por isso a dupla pop foi muito importante. “Naquela época, vivíamos o auge da hegemonia da televisão e ‘Sandy e Junior” era um dupla quase onipresente. As pessoas da minha idade eram todas fãs. Não tínhamos a diversidade de artistas como hoje, no YouTube, para se criar um fandom”, explica a jornalista.

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A jornalista Anamaria Nascimento chegou cedo na fila do Classic Hall, no Recife, para garantir o ingresso (Foto: Divulgação/ Anamaria Nascimento)

Ansioso para o show dos ídolos da sua adolescência, o professor de Geografia, Pedro Almeida, também já garantiu os ingressos dele e da namorada. Par ele, o retorno da dupla é algo épico, já que os irmãos reúnem no mínimo três 3 gerações de fãs. “Não existe Sandy sem Junior. Poder ter a oportunidade de ver ao vivo aqueles que por tanto tempo passei ouvindo músicas em um walkman, agora poder está lá, bem pertinho, é algo épico”, diz Pedro.

Mas, o entusiasmo de fãs como Anamaria e Pedro não é isento de críticas. O retorno de fenômenos como “Sandy e Junior” também diz muito sobre o capital financeiro. Para o Almeida “a forma como foram vendidos os ingressos, percebemos que o ambiente capital falou mais alto, e essa volta também se resume a uma tentativa da dupla e de seu produtores de um bom faturamento, e um retorno à fama.” A jornalista ainda é mais dura na crítica a esses tipos de retorno. “Muito rapidamente eles anunciaram o show. Como fã, acho muito legal. Mas, espero que eles não fiquem nessa de fazer esta turnê de retorno a cada dois anos, num estilo ‘Los Hermanos’. Se a dupla acabou, acabou! Não curto a ideia de ficar voltando de tempos em tempos”, pondera Anamaria.

Fica claro que o retorno dos ídolos do teen pop, que agora já são adultos e com suas respectivas famílias, souberam fazer seu retorno de forma excepcional. “Não é retomar, apenas, a marca enquanto nome. É preciso toda uma estratégia por trás. É apenas um retorno aos palcos. Memórias vêm e passam, mas ela não podem ser muito diferente do que eram antes. Não é algo somente estético, mas sim, de uma estrutura estético-narrativa”, explica Alan Mangabeira.