O resgate dos poetas do simbolismo em Pernambuco em novo livro

FabioAndrade Credito Arquiv

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Fábio Andrade mapeou os simbolistas de PE. (Divulgação).

O simbolismo foi uma das mais marcantes escolas literárias, marcada por muita melancolia e desencanto (as mudanças trazidas pelo século 20 que se avizinhava mexeu com a cabeça dos autores). A produção simbolista em Pernambuco ficou esquecida pelos críticos e editores nas décadas seguintes, mas está sendo resgatada em novo livro lançado esta semana.

O professor da UFPE e escritor Fábio Andrade lança a obra Três Poetas – Na Periferia do Simbolismo, abordando a obra de três poetas: Mendes Martins, Agripino da Silva e Domingos Magarinos. O lançamento do e-book acontece nesta quinta-feira, às 17h, na Editora UFPE.

O projeto é um desdobramento do livro O Fauno dos Trópicos”, lançado em 2015, e que trouxe pela primeira vez um panorama do simbolismo em Pernambuco, com o mapeamento de 13 poetas. “Os três deste novo livro são os que considero mais importantes. Cada um representa uma característica do simbolismo. Mendes Martins é o que melhor expressou o decadentismo – vertente mais melancólica e subjetiva do simbolismo. Domingos Magarinos é o simbolismo mais puro, com influência de Cruz e Souza. E Agripino da Silva já faz uma mistura com o parnasianismo”, explica Fábio. “A ideia da minha pesquisa é mostrar que Pernambuco foi um local importante para a produção do simbolismo no Brasil, mesmo estando fora do eixo”.

Mas por que Recife foi tão frutífera para a produção dos simbolistas? Um deles foi a inauguração do Derby Centro Comercial – uma espécie de precursor dos shoppings centers, incendiado em 1902 –, que virou ponto de encontro dos poetas. Lá, funcionava a única filial da Livraria Francesa – a matriz ficava no Rio de Janeiro. “Os recifenses tinham contato direto com a produção dos autores europeus. Além dos franceses – Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud, Verlaine – os simbolistas portugueses também influenciaram muito os pernambucanos”, conta Fábio Andrade.

Mas ao contrário do que aconteceu na França, onde o simbolismo de Baudelaire se sobrepôs ao parnasianismo, no Brasil os poetas simbolistas foram colocados à margem. “Eram os poetas undergrounds da época. Como o simbolismo vinha da França, foi lido como algo importado, que não tinha a ver com o espírito do brasileiro. Há também um fundo político muito forte. Era uma época de muita crença na ciência, de racionalismo. E esses poetas aparecem mostrando um mundo não tão rosa assim. Eles insistem em certas dimensões esquecidas do ser humano, se contrapondo ao positivismo”, diz Fábio.

Teve também o preconceito contra os escritores nordestinos, mesmo após o fim do simbolismo (que perdurou entre as duas últimas metades do século 19 e as duas primeiras do século 20. “A partir dos anos 1930 e 1940 começou uma reabilitação do movimento. O crítico José Cândido de Andrade Muricy teve interesse pelo tema e apresentou um panorama do simbolismo no Brasil. Mas mesmo ele vai incorrer no erro de que o simbolismo aconteceu apenas nas regiões Sul e Sudeste, porque, na visão dele, são regiões mais frias e com colonização europeia. Ele cita apenas quatro poetas pernambucanos no panorama, todos eles com vida literária fora do estado. A cena literária no Recife foi totalmente ignorada”, afirma.

O livro estará disponível para download gratuito no site da Editora UFPE a partir do dia 29 de junho.

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