Tennis transporta universo íntimo do casamento em disco lírico de indie-pop

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Foto: Luca Venter/Divulgação.
7.5

Alaina Moore e Patrick Riley dedicam boa parte do seu processo criativo em velejar pelas águas do estado onde moram, o Colorado, EUA. A cada vez que as ondas chocam com o casco do barco e o chacoalha, versos e linhas melódicas surgem de forma fluída no imaginário da dupla e se encontram com as experiências vividas por eles, materializando sentimentos que, até então, habitavam apenas no universo íntimo do casal. 

Em Swimmer, quinto álbum de inéditas do duo de indie-pop Tennis, Alaina e Patrick expandem o romantismo tão presente em seus trabalhos. Desde o ótimo Yours Conditionally (2017), a dupla parece mergulhar em um estado mais confessional e se distanciar da exaltação ao amor dos primeiros registros.

Ainda que pouco se diferencie liricamente do seu antecessor, a dupla esculpe a já conhecida atmosfera praiana no novo catálogo em um experimento contemplativo. É como se toda a exuberância paisagística do litoral os estimulassem a um estado de reflexão sobre como o amor construído ao longo do casamento dos músicos tornou-se o alicerce de Moore no enfrentamento das crises inerentes à vida. 

“I’ll Haunt You”, faixa de abertura do novo trabalho, já demarca Swimmer como uma obra documentária sobre o amor conjugal logo nos primeiros versos. “Enquanto o sol desliza sobre meu ombro/ Eu posso dizer que estou ficando mais velha/ Atraída por você como o horizonte”, entoa Moore num misto de reminiscência e melancolia. A cada estrofe da canção, o ouvinte lentamente imerge nas confissões poéticas sobre a vida do casal e Moore parece não titubear na própria entrega, deixando evidente sua dependência amorosa por Riley. “Eu estou segurando você por tanto tempo / Vou assombrá-lo quando eu me for”, canta.

tennis swimmer main

E o disco segue com a dupla continuando a entregar detalhes de momentos compartilhados durante os quase vinte anos de casados. A morte do pai de Patrick; a internação de Alaina, que fez os familiares crerem que ela poderia vir a falecer; além dos recorrentes bloqueios criativos durante o processo de produção do disco; são ressignificados e floreados por melodias empoeiradas e brandas.

São fragmentos de lembranças que, ao serem resgatados e emoldurados em forma de canções, reafirmam a força dos laços criados pelo casal. Um verdadeiro exercício de reiteração dos votos feitos no casamento, como uma cerimônia de bodas, onde o ouvinte, gentilmente, é convidado a presenciar.  

Além disso, o Tennis busca nas referências sonoras típicas da sua discografia as bases para a criação dos novos arranjos. Contudo, aqui os instrumentos crescem de forma lenta, poupando espaço para que os sintetizadores dos anos 1970 e as guitarras embebidas pela nostalgia dividam os minutos de audição de forma democrática. Somado a isso, as cordas que despontam de forma tímida, a melodia límpida do piano e os pequenos momentos de uma precursão praiana contribuem para dar vida à proposta contemplativa do disco. Não é difícil se imaginar numa paisagem litorânea ao ouvir “Tender As A Tomb” e sofrer por um amor perdido ou de observar o céu noturno do litoral e refletir sobre o próprio controle emocional enquanto as guitarras acústicas de “Late Nigth” reverberam. 

Embora boa parte do novo catálogo seja composto por baladinhas, a dupla não decepciona ao trazer canções de apelo mais pop. Esse é o caso de faixas como “How To Forgive”, “Runner” e “Need Your Love”, em que os sintetizadores surgem mais cintilantes e a bateria e o baixo mais vívidos. Contudo, é perceptível um anseio gradativo do Tennis em dar novo direcionamento ao seu som. Em “Need Your Love”, por exemplo, enquanto a bateria cria a expectativa de um refrão explosivo nos segundos inicias, o ouvinte logo é surpreendido pelo repentino desacelerar rítmico, mergulhando em uma pista de dança setentista desalentada.      

No quinto registro de inéditas, o Tennis se mostra completamente dominante do som que vem produzindo desde o início da década passada. O pop praiano, a estética vintage e o evidente fascínio pelas produções musicais dos anos 1970 mantém-se ainda aquecidos e pouco gastos. Por outro lado, é na composição lírica que a dupla parece, a cada novo trabalho, querer expandir-se e renovar-se, ainda que os temas sejam usuais na discografia da dupla. A diferença fica no tratamento poético dado ao romantismo, que é o principal combustível de Moore e Riley para a criação de suas obras e, provavelmente, continuará sendo. 

TENNIS
Swimmer
[Mutually Detrimental, 2020]