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Drag queen potiguar Potyguara Bardo combina ritmos como house music, reggae e lambada (Foto: Divulgação / Diego Marcel)

Um papo com Potyguara Bardo, que lança o piseiro “Cadernin” com Luísa e os Alquimistas

Cantora é conhecida por unir o pop com espiritualidade. "A gente acaba se perdendo nessa ilusão da matéria e nem sempre se lembra de onde vem a nossa essência"

Depois de dar o pontapé inicial nos trabalhos do seu mais novo registro, o EP Comédia Romântica, a cantora e compositora Potyguara Bardo prepara o terreno para o sucessor da obra autobiográfica que a tornou conhecida, o inventivo Simulacre (2018). Ela lança uma versão “piseiro” para a faixa em colaboração com Luísa e Os Alquimistas, Cadernin, e avisa que mais está por vir.

O EP Comédia Romântica chega completo somente em 2021 e dele já conhecemos o clipe de “Curupira” e a faixa “Overdue”. Dona de um estilo que une o pop com inspirações psicodélicas, espiritualidade e experiências transcendentais, Potyguara vem se mostrando uma das figuras mais interessantes do pop nacional.

A Revista Grito conversou com a drag queen sobre como tudo começou, sua música, aspirações e conceitos que ela desatou para construir sua jornada artística até aqui.

A consciência imagina as existências. Já pensou o fardo que seria se a gente existisse de verdade? É inevitável não pensar em Potyguara sem falar de lombras existenciais e da psicodelia unida às experiências materiais e espirituais. Onde e como começou a inquietação por navegar por esse mundo e se possível, indica alguma leitura para emergir pensamentos voltados para espiritualidade?

Eu sempre fui muito cético, então, eu cheguei num ponto da minha vida em que eu estava quase aceitando o caos que o é o universo, né? E depois de uma experiência psicodélica eu abri a minha cabeça pra as outras possibilidades da não-existência, digamos assim, ‘’da inexistência’’, e eu fui pesquisar na internet pra saber sobre aquilo que tinha vivido e pra saber se estava louco ou não e eu me deparei com um livro chamado A Experiência Psicodélica’ que é o livro de Timothy Leary que ele resume pra uma linguagem ocidental O Livro Tibetanos dos Mortos’ que fala dessa passagem da vida pra o além-vida e comparando isso com a transcendência do ego que ocorre na experiência psicodélica e tantas outras experiências ritualísticas ao longo da história.

A propósito, você se sente incomodada das pessoas sempre te marcarem ou te associarem a coisas que vão além da existência?

Eu adoro que me marquem nisso porque a gente acaba se perdendo nessa ilusão da matéria e nem sempre se lembra de onde vem a nossa essência e quando me marcam em algo relacionado à inexistência e o ‘’além-vida’’, o ‘’além-tempo’’, isso me lembra da origem de onde vem o meu ser que é a consciência que observa tudo e a realidade que diante dos meus olhos.

Sabemos que desde sempre os artistas querem ser ouvidos, mas hoje em dia para criar pontes e expandir suas visões criativas, só isso não basta. Assim como o seu som, seu visual também é uma viagem. O que mais te inspira esteticamente e qual a sua intenção com um trabalho tão rico em simbologias?

Eu busco sempre no meu trabalho fazer referências à pureza da minha mentalidade enquanto criança e busco muito das referências visuais que me inspiravam e me encantavam quando eu era criança, porque eu acho que esse é o papel da arte, apresentar um escapismo inicial, mas também, através dessa ilusão lhe trazer de volta pra sua essência e pra relembrar quem você é, seja num nível espiritual, seja num nível de experiência humana. Pelo menos na minha opinião, é o que eu procuro fazer com a minha arte.

Pelo Twitter você confirmou que é a primeira drag a assinar com a editora musical da Universal, mas que mesmo assim continua independente. Como uma artista LGBTI+, os percalços e preconceitos encontrados nessa indústria predominantemente masculina são evidentes. Como você reage diante disso e que mensagem gostariam de deixar para quem estiver lendo esta entrevista?

Nós vivemos sob o patriarcado, mas nem sempre foi assim, a humanidade já experienciou vários outros tipos de organizações sociais, incluindo o matriarcado, e o pêndulo vem balançando mais pro lado do matriarcado já faz algum tempo. Mas é sempre bom relembrar que ainda estamos no patriarcado em que nem todos os seres humanos são nascidos com os seus direitos iguais como deveria ser, então é sempre bom lembrar disso para que possamos empurrar o pêndulo cada vez mais pra um lugar de equilíbrio.

Além de nos entreter e ser um campo de respiro, a música tem sido essencial para suportar a ideia de ficar em casa por tanto tempo. O mercado fonográfico junto ao audiovisual tem se superado neste ano mesmo frente à pandemia. Como está sendo produzir nesses tempos decorrentes da andança e desdobramentos da Covid-19? Ainda há caminhos para encontrar novas sonoridades em meio a tudo isso ou a criatividade tem sido comprometida?

Com certeza. Desde o meio da pandemia eu venho lançando músicas que vão integrar o meu futuro EP Comédia Romântica, que vai ser lançado em 2021 e depois do ‘’Curupira’’, a gente vai lançar “O Casulo”’ muito em breve.

Existem planos para lançamentos ou projetos musicais que foram interrompidos? É possível esperar um irmãozinho pro Simulacre em 2021?

Eu guardo muitas melodias e letras para usar futuramente, até mesmo para ver quais são as que mais voltam na minha mente e que realmente vão grudar na cabeça das pessoas que ouvirem. Então, tinha muito material pra garimpar durante esse tempo teoricamente ocioso, pelo menos ocioso de shows, e eu não sou muito fã de sair de casa, então poder produzir à distância pareceu uma ótima ideia, assim como foi.

Luisa e Poty 2 Credito Ian Rassari
Potyguara e Luísa. (Foto: Ian Rassari. )